Desde o Dia de S. João vivi dias de clausura para me preparar para o terrível exame de Lógica. De quinta-feira até ontem às 13,30H não estive para ninguém e só saí para ir à Eucaristia, no sábado à noite. Está feito, esperemos que definitivamente e dia 9 e 16 tenho mais dois exames. Há que não perder o ritmo.
Mas vamos ao texto do Evangelho de domingo.
Mais uma vez o tema da fé. Diria que nesta magnífica passagem podemos reflectir sobre a ousadia da fé. As duas personagens à volta das quais se desenvolve toda a cena são Jairo, "um dos chefes da sinagoga", e uma "certa" e anónima mulher que sofria há doze anos. A mesma idade da agonizante filha de Jairo.
Cada um deles vive um movimento oposto da sua fé.
A mulher vive uma fé interior, silenciosa, última esperança para quem tudo tinha perdido em tratamentos ineficazes, última mão estendida numa sociedade e numa religião que a ostracizavam e a consideravam impura, última e derradeira possibilidade de saída de um beco em que a doença e a cultura do seu tempo a tinham enfiado. Esta mulher ousou e, contra toda a esperança, rompeu por entre a multidão que a desprezava e a temia e viu-se exposta na grandeza da sua fé quando Jesus a trata por "minha filha" (única vez que Jesus o diz em todos os evangelhos) e assim a faz uma consigo. Filhos dele não são os que o apertam de todos os lados, mas os que no íntimo do seu coração fazem uma verdadeira e ousada opção por Ele. Opção que deve ser manifestada diante de todos, na pequenez do discípulo simples e verdadeiro ("assustada e a tremer (...) veio prostrar-se diante de Jesus e disse-lhe a verdade").
Jairo, faz o movimento contrário (do público ao privado) mas também ele cheio da ousadia da fé. Colocando em causa a sua reputação social e religiosa (um chefe da sinagoga não podia reconhecer assim Jesus), cai aos pés de Jesus e pede-lhe a vida para a sua filha (mais uma vez, voltem a pensar no minha filha de Jesus à mulher. Assim, como Jairo, pensa Jesus naqueles a quem chama de filhos...). Jairo afirma publicamente e ousadamente a sua fé que, ao longo de toda a passagem, não deixa de ser colocada à prova (é a multidão e a mulher que atrasam Jesus, é a notícia da morte da sua filha, são os choros e os gritos à porta de sua casa). A certa altura, Jesus desafia-o a entrar em si, despede a multidão e impõe o silêncio, para que no resto do caminho o chefe da sinagoga percebesse se a sua fé tinha realmente raízes interiores e atingiam em cheio o seu coração. As palavras "não temas. Basta que tenhas fé" são o desafio a todo o homem para que perceba se a sua fé é uma adesão pessoal e íntima ou apenas uma epidérmica emoção ou uma ressequida árvore alimentada por caudais pantanosos de uma tradição sem alma. Assim, Jairo e Jesus entram onde se encontrava a menina a quem Jesus chama de "talitha", isto é irmã, feminino de talya que quer dizer irmão. Irmãos de Jesus são aqueles que vivem a ousadia da fé publicamente, mas que a têm enraizada no mais profundo local das opções fundamentais: o coração.
Este texto extraordinário não é um apelo à caridade, como ouvi no sábado (interpretação legítima, mas pobre), mas uma proposta de reflexão pessoal sobre a fé que nos anima. Esta vive deste duplo movimento: do interior para a sua expressão exterior e vice-versa. Se nos ficarmos pelo primeiro vivemos um espiritualismo egoísta e não provado pelo encontro com o mundo. Se ficamos pelo segundo, vivemos um activismo vazio e rapidamente o mundo e as agruras da vida nos levarão na onda das maiorias flutuantes que vivem ao sabor das correntes.
terça-feira, 30 de junho de 2009
terça-feira, 23 de junho de 2009
Noite de S. João
Fiz há algumas horas o exame de Filosofia e Ciência Política II. Na próxima segunda-feira, tenho o exame mais temido deste semestre: Lógica II. Por isso, dou aqui um salto rapidamente para recordar que hoje é a noite maior para um portuense. A noite de S. João.
Sempre me considerei portuense: nasci no Porto, aí mesmo vivi nove anos (três em Vilar e seis no bairro da Sé), passava todos os domingos do ano e as festas mais importantes na quinta dos meus avós paternos em Campanhã, sempre que saía de casa era para ir ao Porto, que sempre conheci tão bem!
Na noite de S. João vem ao de cima o melhor que esta cidade encerra: ser ainda um espaço de encontro, onde se forjam relações baseadas na liberdade e na solidariedade humana que recusam há séculos qualquer tipo despotismo. Aqui, não existem marchas, todos caminham em conjunto ou ao encontro do rio (sua maior riqueza) ou até à praia (porque o mar também nos fascina) ou até ao bailarico mais próximo (porque a festa está entranhada em nós). Aqui ninguém assiste, todos participam. Aqui ninguém escapa à rudeza do carinho do alho-porro (ou do moderno martelo) porque as mãos ásperas de quem trabalha, à semelhança do nosso belo granito, têm dificuldade em afagar docemente os que mais amam, mas é sólida a sua fidelidade. Aqui todos são acolhidos como iguais porque o poder e os seus senhores estão suficientemente longe (e ainda bem). Nesta noite, infelizmente, não irei ao Porto mas lançarei um balão (não é uma figura de estilo) para que leve, até onde conseguir, o calor desta gente que tanto preza a liberdade como a tolerância de acolher quem quer que chegue e de onde quer que venha.
E amanhã, fazendo memória dos almoços de S. João em Campanhã, estaremos à mesa vinte pessoas, na casa dos meus tios Luís e Té. Já não comemos o cabrito e o arroz amarelo assados no forno a lenha, mas assados nos fornos modernos. Lá estaremos com muitos tios, filhos da quinta do Falcão. Mas hoje quero destacar um deles: o tio Manecas, que vive em Castelo Branco.
Quando eu era criança era um tio que vivia muito longe e quando vinha até ao Porto continuava-o a ver muito distante, não só porque o achava imensamente alto, mas também porque me parecia, na sua altiva (majestosa) postura, ter muito pouco da nossa quente, burguesa e acolhedora hospitalidade. Os anos passaram e há muito percebi que estava muito enganado (as crianças não têm sempre razão, apesar de alguns tolos pensarem que sim!).
No septuagenário tio Manecas vejo a verticalidade de uma vida entendida como um conjunto de compromissos que temos que honrar responsável e amorosamente até ao seu término. Onde via distância, encontro vigilância atenta; onde via majestade, encontro compreensão; onde via nobre frieza, vislumbro a acessibilidade dos homens sábios. Digo-vos: ainda existem homens para quem um sim é um sim, custe o que custar. Uns dirão que é falta de espírito de negociação. Outros que é uma coisa do passado. E outros ainda que é o caminho para a pobreza. Para mim, é o que se chama um homem. Vai ser bom dar-lhe um abraço.
Sempre me considerei portuense: nasci no Porto, aí mesmo vivi nove anos (três em Vilar e seis no bairro da Sé), passava todos os domingos do ano e as festas mais importantes na quinta dos meus avós paternos em Campanhã, sempre que saía de casa era para ir ao Porto, que sempre conheci tão bem!
Na noite de S. João vem ao de cima o melhor que esta cidade encerra: ser ainda um espaço de encontro, onde se forjam relações baseadas na liberdade e na solidariedade humana que recusam há séculos qualquer tipo despotismo. Aqui, não existem marchas, todos caminham em conjunto ou ao encontro do rio (sua maior riqueza) ou até à praia (porque o mar também nos fascina) ou até ao bailarico mais próximo (porque a festa está entranhada em nós). Aqui ninguém assiste, todos participam. Aqui ninguém escapa à rudeza do carinho do alho-porro (ou do moderno martelo) porque as mãos ásperas de quem trabalha, à semelhança do nosso belo granito, têm dificuldade em afagar docemente os que mais amam, mas é sólida a sua fidelidade. Aqui todos são acolhidos como iguais porque o poder e os seus senhores estão suficientemente longe (e ainda bem). Nesta noite, infelizmente, não irei ao Porto mas lançarei um balão (não é uma figura de estilo) para que leve, até onde conseguir, o calor desta gente que tanto preza a liberdade como a tolerância de acolher quem quer que chegue e de onde quer que venha.
E amanhã, fazendo memória dos almoços de S. João em Campanhã, estaremos à mesa vinte pessoas, na casa dos meus tios Luís e Té. Já não comemos o cabrito e o arroz amarelo assados no forno a lenha, mas assados nos fornos modernos. Lá estaremos com muitos tios, filhos da quinta do Falcão. Mas hoje quero destacar um deles: o tio Manecas, que vive em Castelo Branco.
Quando eu era criança era um tio que vivia muito longe e quando vinha até ao Porto continuava-o a ver muito distante, não só porque o achava imensamente alto, mas também porque me parecia, na sua altiva (majestosa) postura, ter muito pouco da nossa quente, burguesa e acolhedora hospitalidade. Os anos passaram e há muito percebi que estava muito enganado (as crianças não têm sempre razão, apesar de alguns tolos pensarem que sim!).
No septuagenário tio Manecas vejo a verticalidade de uma vida entendida como um conjunto de compromissos que temos que honrar responsável e amorosamente até ao seu término. Onde via distância, encontro vigilância atenta; onde via majestade, encontro compreensão; onde via nobre frieza, vislumbro a acessibilidade dos homens sábios. Digo-vos: ainda existem homens para quem um sim é um sim, custe o que custar. Uns dirão que é falta de espírito de negociação. Outros que é uma coisa do passado. E outros ainda que é o caminho para a pobreza. Para mim, é o que se chama um homem. Vai ser bom dar-lhe um abraço.
domingo, 21 de junho de 2009
XII Domingo do Tempo Comum
A cena do evangelho deste domingo foi sempre interpretada como a barca da Igreja que, no meio das tormentas e tempestades do mundo, nada deve temer porque traz dentro de si sempre o seu Mestre, que a protege, guia e lhe dá vida. Nessa barca o cristão não deve desesperar porque O Senhor está sempre com a sua Igreja.
Não coloco em causa, de maneira nenhuma, esta leitura tão legítima como fundada numa longa tradição hermenêutica. Proponho sim uma outra leitura, a partir das duas perguntas de Jesus aos seus discípulos: "Porque estais assustados? Ainda não tendes fé?" Estas duas questões mais que dirigirem o olhar para o próprio Jesus, obrigam-nos a olhar a tempestade, a revolta do mar, isto é a olhar os sinais do tempo, os sinais do nosso tempo, no nosso mundo, na vida de cada um. De onde vos vem o medo? O que vos provoca tamanha angústia, desesperança, tristeza, horror? Onde está a vossa fé que vos ajuda a ler os sinais dos tempos? Onde está a vossa fé que lança o olhar para lá do visível, para o essencial?
Assim, o evangelho deste domingo lança-nos o olhar para dentro de cada um de nós e da nossa Igreja: de onde vem o meu horror, o meu medo, a minha angústia. As perguntas de Jesus pedem-nos para erguer a cabeça do nosso eu para os problemas do mundo à nossa volta: como olho os sinais do meu tempo? Como vejo as opções e as atitudes dos meus contemporâneos? Como interpreto as opções culturais e civilizacionais do meu tempo?
É que por vezes, a habitual interpretação deste texto pode-nos levar a pensar que estamos sempre certos, que, porque levamos o Mestre na nossa barca, nada temos a aprender com os sinais do tempo e com as opções do homem. Pode-nos fazer sentir que tudo o que vem de fora e se passa à nossa volta é mau e nada nos ensina e nos faz reflectir sobre as nossas opções e as nossas acções. Penso que o que Jesus nos quer dizer é que qualquer tempestade na vida pessoal de cada um e qualquer tormenta no mundo que nos rodeia não são forças malignas a condenar e a travar mas são uma oportunidade única para nos colocarmos em questão e para crescermos como homens e como crentes. É que se o vento obedece ao Senhor é porque o conhece e também é seu; se o mar ouve a sua voz é porque é obra divina e tem um papel no mundo, logo não são obras do mal, mas são vozes que temos que escutar, gestos que temos que interpretar, acontecimentos que nos impelem a uma avaliação pessoal e comunitária para lhes podermos dar uma resposta de vida. O vento e o mar fazem parte da vida, estamos neles mergulhados e não podemos nem fazer de conta que não existem nem temer quando fazem ouvir a sua voz. Quando o fazem nós Igreja só temos uma atitude: unidos ao Mestre escutemos seus anseios, ouçamos suas revoltas, compreendamos suas dores. Só assim fazemos a paz. Só assim escutamos o outro. Só assim transformamos o mundo.
Não peçamos ao Senhor que nos livre das tempestades mas que nos ensine a lidar com elas e a dar-lhes respostas que integrem e não alienem nem desintegrem.
Não coloco em causa, de maneira nenhuma, esta leitura tão legítima como fundada numa longa tradição hermenêutica. Proponho sim uma outra leitura, a partir das duas perguntas de Jesus aos seus discípulos: "Porque estais assustados? Ainda não tendes fé?" Estas duas questões mais que dirigirem o olhar para o próprio Jesus, obrigam-nos a olhar a tempestade, a revolta do mar, isto é a olhar os sinais do tempo, os sinais do nosso tempo, no nosso mundo, na vida de cada um. De onde vos vem o medo? O que vos provoca tamanha angústia, desesperança, tristeza, horror? Onde está a vossa fé que vos ajuda a ler os sinais dos tempos? Onde está a vossa fé que lança o olhar para lá do visível, para o essencial?
Assim, o evangelho deste domingo lança-nos o olhar para dentro de cada um de nós e da nossa Igreja: de onde vem o meu horror, o meu medo, a minha angústia. As perguntas de Jesus pedem-nos para erguer a cabeça do nosso eu para os problemas do mundo à nossa volta: como olho os sinais do meu tempo? Como vejo as opções e as atitudes dos meus contemporâneos? Como interpreto as opções culturais e civilizacionais do meu tempo?
É que por vezes, a habitual interpretação deste texto pode-nos levar a pensar que estamos sempre certos, que, porque levamos o Mestre na nossa barca, nada temos a aprender com os sinais do tempo e com as opções do homem. Pode-nos fazer sentir que tudo o que vem de fora e se passa à nossa volta é mau e nada nos ensina e nos faz reflectir sobre as nossas opções e as nossas acções. Penso que o que Jesus nos quer dizer é que qualquer tempestade na vida pessoal de cada um e qualquer tormenta no mundo que nos rodeia não são forças malignas a condenar e a travar mas são uma oportunidade única para nos colocarmos em questão e para crescermos como homens e como crentes. É que se o vento obedece ao Senhor é porque o conhece e também é seu; se o mar ouve a sua voz é porque é obra divina e tem um papel no mundo, logo não são obras do mal, mas são vozes que temos que escutar, gestos que temos que interpretar, acontecimentos que nos impelem a uma avaliação pessoal e comunitária para lhes podermos dar uma resposta de vida. O vento e o mar fazem parte da vida, estamos neles mergulhados e não podemos nem fazer de conta que não existem nem temer quando fazem ouvir a sua voz. Quando o fazem nós Igreja só temos uma atitude: unidos ao Mestre escutemos seus anseios, ouçamos suas revoltas, compreendamos suas dores. Só assim fazemos a paz. Só assim escutamos o outro. Só assim transformamos o mundo.
Não peçamos ao Senhor que nos livre das tempestades mas que nos ensine a lidar com elas e a dar-lhes respostas que integrem e não alienem nem desintegrem.
quarta-feira, 17 de junho de 2009
Mais uma Música
Tal como prometi aqui vai mais uma música do projecto Playing For Change. No meio dos estudos de Filosofia Política II em que a guerra para uns é uma irracionalidade a evitar com uma Sociedade das Nações (Kant) e, para outros, é uma manifestação do espírito absoluto e factor de progresso da história (Hegel) nada melhor que a música War, No More Trouble, para que a utopia da paz nos motive a não baixarmos os braços. Esta tem a participação de Bonno, vocalista dos U2.
Eis a música aqui.
Eis a música aqui.
terça-feira, 16 de junho de 2009
Playing For Change
Há algumas semana coloquei aqui um link para a fantástica versão de Stand By Me interpretada por diferentes músicos de rua de diferentes países. Li, hoje, na Pública de domingo, que o projecto que nasceu com essa música - Playing For Change - lançou um Cd com dez canções e um DVD com cinco e dois documentários. O resultado da sua venda será uma ajuda para criar escolas de música nos países pobres. Deixo-vos aqui a música de Bob Marley, One Love, na versão de diferentes artistas do nosso mundo. Como sempre vale a pena. E vale a pena acreditar no amor: o segredo para mudar o mundo...
É só clicar aqui.
Durante a semana colocarei aqui mais alguns vídeos. Valem a pena.
É só clicar aqui.
Durante a semana colocarei aqui mais alguns vídeos. Valem a pena.
segunda-feira, 15 de junho de 2009
XI Domingo do Tempo Comum
O Reino dos Deus é uma realidade tão presente no mundo como a semente lançada à terra está presente na terra. O seu germinar e o seu crescimento são tão imparáveis como discretos, tão efectivos como invisíveis, tão presentes como imperceptíveis que quase passam despercebidos. Este reino tem a marca da acção de Jesus: um com os outros, proposta e não imposição, caminho entre muitos caminhos.
O reino de Deus não é a Igreja, mas a Igreja é chamada a torná-lo presente entre os homens; a torná-lo mais notório como possibilidade de um mundo novo. Assim, nós os crentes somos chamados, ao estilo do Mestre, na pequenez da nossa fragilidade humana ("a menor de todas as sementes que há sobre terra") e da nossa limitada capacidade de mudar os corações (até os nossos), a não deixar de crescer e germinar em nós essa semente de vida nova que é a palavra, o estilo e a vida de Jesus.
E como sabemos que estamos a crescer bem como cristãos e como Igreja? "Estendo de tal forma os seus ramos que as aves do céu podem abrigar-se à sua sombra". Isto é, estendendo de tal forma os nossos braços, o nosso olhar, o nosso coração, a nossa vida que muitos possam abrigar-se à sombra refrescante e retemperadora da vida cristã.
Só uma Igreja disponível e aberta a todos é sinal do Reino. Se em nós cristãos os homens encontrarem abrigo, compreensão, conforto humano e horizontes largos, abertos e arejados então o reino não só será um pouco mais perceptível como justificadamente necessário. E todos descobrirão o tesouro que trazemos nestes vasos de barro que somos nós o crentes em Cristo.
O reino de Deus não é a Igreja, mas a Igreja é chamada a torná-lo presente entre os homens; a torná-lo mais notório como possibilidade de um mundo novo. Assim, nós os crentes somos chamados, ao estilo do Mestre, na pequenez da nossa fragilidade humana ("a menor de todas as sementes que há sobre terra") e da nossa limitada capacidade de mudar os corações (até os nossos), a não deixar de crescer e germinar em nós essa semente de vida nova que é a palavra, o estilo e a vida de Jesus.
E como sabemos que estamos a crescer bem como cristãos e como Igreja? "Estendo de tal forma os seus ramos que as aves do céu podem abrigar-se à sua sombra". Isto é, estendendo de tal forma os nossos braços, o nosso olhar, o nosso coração, a nossa vida que muitos possam abrigar-se à sombra refrescante e retemperadora da vida cristã.
Só uma Igreja disponível e aberta a todos é sinal do Reino. Se em nós cristãos os homens encontrarem abrigo, compreensão, conforto humano e horizontes largos, abertos e arejados então o reino não só será um pouco mais perceptível como justificadamente necessário. E todos descobrirão o tesouro que trazemos nestes vasos de barro que somos nós o crentes em Cristo.
domingo, 14 de junho de 2009
O Meu Tio Luís Martins
Hoje quero reservar este espaço para sublinhar o aniversário do meu tio Luís Martins. Com ele aprendi e aprendo imensas coisas: na aldeia de onde é natural, Ribas em S. Pedro do Sul, aprendi a fazer vinho, a semear e apanhar batatas, a pescar, a admirar o campo, o seu ritmo, as suas gentes e, principalmente, a viver e a conviver com todas as pessoas sem fazer distinções. Na quinta da minha avó, na freguesia de Campanhã no Porto, ensinou-me como, no campo e na vida, devemos ser calmos, serenos e fazer as coisas sem pressas, com método e com alma. Ensinou-me a conduzir porque, logo que tirei a carta, andava comigo no seu Opel Kadett, que rapidamente me ofereceu, para que eu fosse adquirindo prática. Ensinou-me a cantar na missa e no fim de cada refeição da nossa família alargada. Nesses almoços, aprendi com ele a arte da oratória e esse momento congregador que é a altura dos discursos.
Enfim, se continuasse a lista seria infindável. Mas o mais importante, que com este meu tio aprendi foi a bondade, a gratuidade, a opção consciente pela seriedade e pela cidadania, a dedicação e o valor fantástico da generosidade que é a alegria do dar, sem nada esperar nem querer em troca, sem nada exigir ou condicionar. Além disso tudo, com o apoio incondicional da sua esposa, a tia Té, ajudou e ajuda a minha mãe a criar-nos (quando eu tinha dezoito anos a minha mãe ficou só, não trabalhava desde o nascimento da João e nós os quatro estudavamos!), ajudou e ajuda cada um de nós a concretizar os nossos sonhos. Por isso, não me venham falar do sangue porque o Amor não é uma questão natural nem de paternidades biológicas, o amor é uma opção por alguém em que se empenha toda a vida oblativamente. Adaptando o que o povo diz (por vezes lá acerta!) amar não é fazê-los mas é criá-los.
O tio Luís é o pai que realmente eu nunca cheguei a ter.
E suspeito que os meus três outros irmãos assinariam por baixo esta afirmação.
Enfim, se continuasse a lista seria infindável. Mas o mais importante, que com este meu tio aprendi foi a bondade, a gratuidade, a opção consciente pela seriedade e pela cidadania, a dedicação e o valor fantástico da generosidade que é a alegria do dar, sem nada esperar nem querer em troca, sem nada exigir ou condicionar. Além disso tudo, com o apoio incondicional da sua esposa, a tia Té, ajudou e ajuda a minha mãe a criar-nos (quando eu tinha dezoito anos a minha mãe ficou só, não trabalhava desde o nascimento da João e nós os quatro estudavamos!), ajudou e ajuda cada um de nós a concretizar os nossos sonhos. Por isso, não me venham falar do sangue porque o Amor não é uma questão natural nem de paternidades biológicas, o amor é uma opção por alguém em que se empenha toda a vida oblativamente. Adaptando o que o povo diz (por vezes lá acerta!) amar não é fazê-los mas é criá-los.
O tio Luís é o pai que realmente eu nunca cheguei a ter.
E suspeito que os meus três outros irmãos assinariam por baixo esta afirmação.
sexta-feira, 12 de junho de 2009
Estética II
Há poucas horas terminei o meu primeiro exame desta época: Estética II. Não correu mal e dará para positiva, veremos de quanto. Mas o mais importante foi o que recebi desta disciplina: um novo olhar sobre a arte e sobre a vida, de que já, em tempos, aqui fui falando. Deixo apenas aqui uma parte muito pequena de um livro lindíssimo sobre o acto criativo como uma expressão da vida, do pensar e da arte. Algo ao alcance de todos com a sua vida...
"Na origem da beleza está unicamente a ferida, singular, diferente para cada qual, escondida ou visível, que todos os homens guardam dentro de si, preservada, e onde se refugiam ao pretenderem trocar o mundo por uma solidão temporária mas profunda. Fora de miserabilismos. A arte de Giacometti parece querer revelar essa ferida secreta dos seres e das coisas, para que ela os ilumine".
"Na origem da beleza está unicamente a ferida, singular, diferente para cada qual, escondida ou visível, que todos os homens guardam dentro de si, preservada, e onde se refugiam ao pretenderem trocar o mundo por uma solidão temporária mas profunda. Fora de miserabilismos. A arte de Giacometti parece querer revelar essa ferida secreta dos seres e das coisas, para que ela os ilumine".
JEAN GENET, O Estúdio de Alberto Giacometti
terça-feira, 9 de junho de 2009
Daniel Faria
O Daniel Faria partiu para junto de Deus há dez anos. Éramos amigos desde 1983. Eu era pároco em Santo Tirso há três anos. Ele vivia no Mosteiro de Singeverga, no mesmo concelho, por isso várias vezes nos encontrávamos. Não tantas como deveriam ter sido. Mas ninguém esperava aquela finta do tempo...
Deixo mais um poema seu, que muitas vezes dei aos meus jovens nas actividades maiores do Verão.
Lembra-te do teu Criador nos dias da mocidade
A tua única herança para os dias da desgraça
Cava fundo o coração para a lembrança
Antes que digas não tenho mais prazer
Antes que a noite seja noite e não vejas mais o sol nem as estrelas nem os filhos]
Antes que voltem as nuvens como a chuva depois da viuvez
Antes do dia em que as mulheres, uma a uma, pararem de moer
Quando a escuridão cair sobre os que olham pela janela
Quando se fecha a porta da rua e o ruído não diminui
Quando se acorda com o canto do pássaro e as palavras desaparecem
Quando a altura se assemelha aos sustos que se apanham no caminho
Quando a amendoeira está em flor e o gafanhoto se torna pesado
Quando o tempero perde o sabor
Antes que a tua única herança seja a lembrança
Antes que o fio de prata se rompa e a roldana rebente no poço
Antes de tudo isto
Põe uma escada e sobe ao cimo do que vês.
A fotografia é do grande amigo comum Joaquim Santos. E se não erro, foi tirada no santuário da Senhora da Lapa, na Serra da Lapa, concelho de Sernancelhe.
Um dia escreveu-me dizendo que eu era a mais antiga das suas amizades... Ainda o é e será...
Deixo mais um poema seu, que muitas vezes dei aos meus jovens nas actividades maiores do Verão.
Lembra-te do teu Criador nos dias da mocidade
A tua única herança para os dias da desgraça
Cava fundo o coração para a lembrança
Antes que digas não tenho mais prazer
Antes que a noite seja noite e não vejas mais o sol nem as estrelas nem os filhos]
Antes que voltem as nuvens como a chuva depois da viuvez
Antes do dia em que as mulheres, uma a uma, pararem de moer
Quando a escuridão cair sobre os que olham pela janela
Quando se fecha a porta da rua e o ruído não diminui
Quando se acorda com o canto do pássaro e as palavras desaparecem
Quando a altura se assemelha aos sustos que se apanham no caminho
Quando a amendoeira está em flor e o gafanhoto se torna pesado
Quando o tempero perde o sabor
Antes que a tua única herança seja a lembrança
Antes que o fio de prata se rompa e a roldana rebente no poço
Antes de tudo isto
Põe uma escada e sobe ao cimo do que vês.
A fotografia é do grande amigo comum Joaquim Santos. E se não erro, foi tirada no santuário da Senhora da Lapa, na Serra da Lapa, concelho de Sernancelhe.
Um dia escreveu-me dizendo que eu era a mais antiga das suas amizades... Ainda o é e será...
segunda-feira, 8 de junho de 2009
Eleições Europeias
Diz-se que em política o que parece, é. E, na verdade, nas eleições de ontem o P.S. teve o terceiro pior resultado da sua história, viu o bloco à sua esquerda a ter mais de vinte por cento dos votos e viu a direita a renascer das cinzas e a atingir no seu conjunto quarenta por cento dos votos. É evidente que mais de trinta por cento dos eleitores que costumam votar não o fizeram, mas parece evidente que esse número, nas futuras legislativas, vai-o fazer e vai-se distribuir por todos os partidos o que terá como consequência que, em Outubro, provavelmente, não haverá maioria absoluta de nenhum partido, o que não é nenhuma tragédia, como em Portugal é habitual ouvir-se.
E aqui coloca-se a questão mais importante à democracia portuguesa: trinta e cinco anos de regime democrático e na mais grave crise desde o Verão de 1975 estamos preparados para trocar ideias, colocar sobre a mesa os nossos projectos, as nossas concepções económicas e sociais e governar para o bem comum e não para o bem das cooperações que pululam à volta dos partidos e que paralisam o estado? Sinceramente parece-me que não e isso é sintoma da juventude doente da nossa democracia. E digo isso por diferentes razões, mas hoje fico-me por uma tão simples como triste, que mais uma vez, ontem, pude constatar.
Já notaram como em Portugal se comemora uma vitória eleitoral ou como se aceita uma derrota à imagem do discurso futebolístico? Já se aperceberam que apoia-se um partido como se fosse o clube lá da terra? Cantam-se cânticos adaptados das claques futebolísticas e entoam-se discursos como se se falasse para adeptos? Nunca ouviram seguidores de um partido a remoerem invectivas violentas e condoídas contra os adversários? Só que no futebol ninguém é de um clube por opções racionais ou por eles defenderem um projecto económico ou um projecto de país. No futebol, o adepto é-o porque sim. É uma crença não justificada nem procura sê-lo.
O incompreensível é que, na política, o militante e o simpatizante comportam-se, na sua maioria, da mesma forma. Muitos nem balbuciar um discurso coerente de justificação opcional por A ou por B são capazes. Atente-se nas guerras das facções dentro dos partidos, seja a nível local e nacional: quantas vezes se discutem projectos, ideias e concepções políticas e sociais? Quantas vezes se ultrapassa o discurso pessoal e se apresenta ideias reformadoras? Quantas vezes vingam a amizade interessada, o calculismo e a demagogia? Porque o que importa é vencer o adversário, nem que seja sem o árbitro (povo) ver ou perceber. E depois, existem os muitos que, dizendo que não gostam de política, nem votam tal como os que não gostando de futebol não o vêm nem o discutem nem lhe conhecem as regras. Como se política e futebol fossem a mesma coisa e tivessem as mesmas consequências!
Parece-me que a democracia é uma construção demasiado frágil para se ter uma postura assim: leviana, interesseira e irracional. É uma construção tão lenta e periclitante que não se compadece nem com egoísmos pessoais nem com egoísmos partidários. Talvez o agudizar da crise nos ajude a arrepiar caminho, senão, não tenham dúvidas, os extremismos vão medrar e tudo será mais difícil.
E aqui coloca-se a questão mais importante à democracia portuguesa: trinta e cinco anos de regime democrático e na mais grave crise desde o Verão de 1975 estamos preparados para trocar ideias, colocar sobre a mesa os nossos projectos, as nossas concepções económicas e sociais e governar para o bem comum e não para o bem das cooperações que pululam à volta dos partidos e que paralisam o estado? Sinceramente parece-me que não e isso é sintoma da juventude doente da nossa democracia. E digo isso por diferentes razões, mas hoje fico-me por uma tão simples como triste, que mais uma vez, ontem, pude constatar.
Já notaram como em Portugal se comemora uma vitória eleitoral ou como se aceita uma derrota à imagem do discurso futebolístico? Já se aperceberam que apoia-se um partido como se fosse o clube lá da terra? Cantam-se cânticos adaptados das claques futebolísticas e entoam-se discursos como se se falasse para adeptos? Nunca ouviram seguidores de um partido a remoerem invectivas violentas e condoídas contra os adversários? Só que no futebol ninguém é de um clube por opções racionais ou por eles defenderem um projecto económico ou um projecto de país. No futebol, o adepto é-o porque sim. É uma crença não justificada nem procura sê-lo.
O incompreensível é que, na política, o militante e o simpatizante comportam-se, na sua maioria, da mesma forma. Muitos nem balbuciar um discurso coerente de justificação opcional por A ou por B são capazes. Atente-se nas guerras das facções dentro dos partidos, seja a nível local e nacional: quantas vezes se discutem projectos, ideias e concepções políticas e sociais? Quantas vezes se ultrapassa o discurso pessoal e se apresenta ideias reformadoras? Quantas vezes vingam a amizade interessada, o calculismo e a demagogia? Porque o que importa é vencer o adversário, nem que seja sem o árbitro (povo) ver ou perceber. E depois, existem os muitos que, dizendo que não gostam de política, nem votam tal como os que não gostando de futebol não o vêm nem o discutem nem lhe conhecem as regras. Como se política e futebol fossem a mesma coisa e tivessem as mesmas consequências!
Parece-me que a democracia é uma construção demasiado frágil para se ter uma postura assim: leviana, interesseira e irracional. É uma construção tão lenta e periclitante que não se compadece nem com egoísmos pessoais nem com egoísmos partidários. Talvez o agudizar da crise nos ajude a arrepiar caminho, senão, não tenham dúvidas, os extremismos vão medrar e tudo será mais difícil.
domingo, 7 de junho de 2009
Solenidade da Santíssima Trindade
A festa do tempo comum da Santíssima Trindade é a festa da responsabilidade social do cristão. Não é por acaso que o Evangelho de hoje é o envio em missão dos cristãos para baptizarem os homens em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, em nome do seu Deus: um Deus que é diversidade, que é diferença e que nessa diferença faz unidade. É a festa da responsabilidade social porque o cristão é chamado a construir no mundo esta unidade. Uma unidade que não tolera as diferenças mas que as acolhe porque elas são a radical riqueza da humanidade. Acolhe as diferenças culturais, religiosas, sociais, económicas, políticas porque todas elas nos definem, enriquecem e distinguem como humanidade.
Somos imagem e semelhança do Deus trino e uno: somos uma só natureza (humana) e uma diversidade de pessoas. Só viveremos numa comunhão total com Ele quando formos capazes da comunhão. Somos a Igreja do Pai e do Filho e do Espírito Santo, mas só seremos protótipo para a humanidade de uma comunidade de irmãos e irmãs quando não houver vigários de Cristo, estruturas piramidais e exclusivistas, quando as comunidades forem locais de liberdade de opinião e de celebração verdadeiramente comunitária e integradora sem subordinações e com um verdadeiro espírito de comunhão.
Celebrar a Santíssima Trindade é erguer para o Pai e o Filho e o Espírito Santo uma sentida oração pela convivência humana e pela renovação comunitária da Igreja de Cristo. Se nos limitarmos, neste dia, a piamente contemplar o mistério trinitário sem extrair consequências activas pela unidade na diversidade da humanidade e pela renovação da comunhão eclesial contribuímos para a indiferença de uma maioria e para irrelevância de uma minoria alienada e descomprometida.
Somos imagem e semelhança do Deus trino e uno: somos uma só natureza (humana) e uma diversidade de pessoas. Só viveremos numa comunhão total com Ele quando formos capazes da comunhão. Somos a Igreja do Pai e do Filho e do Espírito Santo, mas só seremos protótipo para a humanidade de uma comunidade de irmãos e irmãs quando não houver vigários de Cristo, estruturas piramidais e exclusivistas, quando as comunidades forem locais de liberdade de opinião e de celebração verdadeiramente comunitária e integradora sem subordinações e com um verdadeiro espírito de comunhão.
Celebrar a Santíssima Trindade é erguer para o Pai e o Filho e o Espírito Santo uma sentida oração pela convivência humana e pela renovação comunitária da Igreja de Cristo. Se nos limitarmos, neste dia, a piamente contemplar o mistério trinitário sem extrair consequências activas pela unidade na diversidade da humanidade e pela renovação da comunhão eclesial contribuímos para a indiferença de uma maioria e para irrelevância de uma minoria alienada e descomprometida.
sábado, 6 de junho de 2009
Apontamentos
Acabei há pouco o trabalho para avaliação em Filosofia do Conhecimento II sobre a teoria consequencialista da virtude de Julia Driver. Agora está tudo pronto para me dedicar a cem por cento aos exames que começam sexta-feira com a disciplina de Estética. Espero estar à altura. * Na quinta recebi imensos votos de feliz aniversário, a todos os que o fizeram o meu muito obrigado. É sempre muito bom sentirmo-nos recordados. * Ainda na quinta fui jantar a um excelente restaurante de comida sofisticada e a preços delicados. Bebi pela primeira vez um vinho do novo mundo, da distante Austrália, que se revelou de uma frescura superior que amacia o seu grande grau alcoólico. Aliás, no Degusto devemos ter a melhor e mais completa lista de vinhos do país. Impressionante. Vale mesmo a pena. * Ontem chegou a minha irmã Inês e o meu cunhado da sua lua-de-mel nos Estados Unidos e nas Bahamas. Ainda não estive com eles, mas fico muito feliz com a felicidade deles. * Prometi que falaria de outros espectáculos do Imaginarius. Espero ter tempo para o fazer nos próximos dias. * Amanhã é dia de eleições, como é evidente irei votar porque respeito os nossos pais que sonharam e lutaram pela democracia e porque me recuso a pactuar com a abstenção que é uma atitude de nem frio nem quente, morna, típica de uma atitude acomodada, cínica e sem esperança. * Finalmente, o mais importante. Na segunda-feira e na terça-feira realizar-se-á no Porto um colóquio sobre o poeta e meu amigo Daniel Faria sob o nome "E Agora Eu Sei as Coisas Devagar". Como estou em exames não vou poder participar, para grande pena minha. Quem poder que o faça, o programa é aliciante. Ao ver o programa fico felicíssimo por perceber como a obra do Daniel tem sido alvo de muitos trabalhos e estudos. São absolutamente justos e merecidos. Deixo aqui um poema seu com o título Explicação do Sorriso.
A mãe disse-lhe escreve-me
De lá longe para onde vais
E ela disse não é longe casar
E a mãe sorria cega de dor
E parecia de deslumbramento.
A mãe disse-lhe escreve-me
De lá longe para onde vais
E ela disse não é longe casar
E a mãe sorria cega de dor
E parecia de deslumbramento.
quinta-feira, 4 de junho de 2009
Aniversário
Hoje é o meu aniversário. Para grande satisfação pessoal já começaram a chover as mensagens, os mails e os telefonemas de felicidades. Não vou escrever muito. Apenas agradeço com uma gratidão impronunciável aos meus irmãos, aos tios, aos grandes amigos, aos amigos, aos colegas de seminário, de sacerdócio, de docência e da academia e a todos os que se cruzaram comigo ao longo destes 38 anos: tudo o que sou, na sua devida proporção, vos devo. Muito obrigado.
Finalmente, o agradecimento maior para a minha mãe sem ela não haveria este dia, sem ela não teria chegado até hoje, sem ela não teria a bela história de vida que já tenho para contar. Mais do que eu, é a minha mãe que está de parabéns.
Para recordar uma foto em que acho que teria alguns dias ao colo da minha mãe. Era o primeiro filho de quatro. Estavamos em 1971.
Finalmente, o agradecimento maior para a minha mãe sem ela não haveria este dia, sem ela não teria chegado até hoje, sem ela não teria a bela história de vida que já tenho para contar. Mais do que eu, é a minha mãe que está de parabéns.
Para recordar uma foto em que acho que teria alguns dias ao colo da minha mãe. Era o primeiro filho de quatro. Estavamos em 1971.
segunda-feira, 1 de junho de 2009
Imaginarius 2009
Neste fim-de-semana decorreu em Santa Maria da Feira o Imaginarius, Festival Internacional de Teatro de Rua. Assim, na sexta-feira e no sábado participei entusiasticamente em mais esta magnifica organização do município feirense a fazer ver a muitas e de maior nomeada câmaras deste país.
Hoje vou falar-vos do espectaculo nocturno "O Mundo de Pinóquio", uma co-produção do grupo alemão Titanick Theatre com o Acert e o Centro de Criação para o Teatro e Artes de Rua, que constituía uma parada, que percorria várias ruas feirenses, liderada por um impressionante Pinóquio de mais de sete metros de altura. Este engenho cénico é uma criação do Trigo Limpo teatro Acert.
Pinóquio é o símbolo de toda a criança que, sendo uma criação de adultos, anseia libertar-se de todas as suas manipulações, tornar-se autónoma e, fascinada pelo mundo à sua volta, tornar-se um adulto livre para o poder explorar todo. Ora, a parada mostra-nos o paradoxo deste pensar da criança com o sonho do adulto que tenta não deixar morrer a criança que existe em si e não se deixar instrumentalizar pelas regras sociais. O paradoxo está aqui: enquanto a criança sonha ser adulto, o adulto sonha ser criança e aprende, olhando para elas, que como adulto pode melhor concretizar esse seu sonho, usando toda a sua liberdade e capacidade criativa.
Em toda esta procissão moderna, que não deixa ninguém indiferente nem passivo, acompanham Pinóquio uma série de personagens adultas (militar, cientista, sacerdote, prostitutas, um rei, um mordomo, etc) que, diante do espanto de Pinóquio, lhe oferecem uma festa de dança, de música, de gastronomia, de espuma, de jogos de água, de luz, de pirotecnia e de som. O espanto de Pinóquio é o espanto das crianças diante dos momentos em que os adultos, pelos diferentes constituintes da festa e do convívio, se lhes manifestam como autênticos petizes que, deitando mão de toda a sua imaginação e capacidade técnica, conseguem trazer ao de cima todo o seu espírito infantil, que os liberta e os torna mais humanos e maduros. No espectáculo, Pinóquio vai participando, no festim agradecido que o mundo dos adultos lhe oferece, integrando-se em todas as dinâmicas criadas e dançando ao som de uma música ao vivo, tão delirante como poética que a ninguém era indiferente. Os adultos, num crescendo de saudável loucura e contagiante alegria, vão descobrindo que não só a sua potência criadora atinge níveis espantosos quando aposta no lúdico como espaço de encontro com o outro, como também intuem que quanto mais forem pessoas maduras mais têm a oportunidade de tornar mais vivo o espírito de criança que tanto buscam.
É um espectáculo de mais de uma hora que converge a si milhares de pessoas em que todos querem participar pois sentem que o mundo manipulador em que vivemos apenas nos quer como seres produtivos e consumidores, formatados e sem diversidade, incapazes do sonho e da festa. Não são, hoje, as crianças tão manipuladas económica, politica e culturalmente e, com elas, as suas famílias?
Estão aqui as novas linguagens simbólicas e reflexivas que as instituições mais antigas têm que assumir para não perderem relevância. Não posso deixar de escrever esta provocação sugerida pela minha participação no celebração eucarística de sábado, precisamente na Igreja Matriz de Santa Maria da Feira: Porque estava aquela magnífica igreja tão vazia? Porque é que, numa missa que era da catequese, só se viam sexagenários e, muito pontualmente, crianças, jovens e pessoas da classe etária 25-55? Eram 18,30 e as ruas à sua volta começavam a encher-se de pessoas que buscam linguagens que as motivem, surpreendam e as façam reflectir. Que as libertem das amarras discriminatórias e dos não-valores morais que lhes querem impor. Que encontram nas respostas tradicionais apenas o enfadonho repetir de fórmulas que ninguém compreende nem entende e que a ninguém toca emocional e intelectualmente.
Já que estou sem máquina fotográfica, logo que tiver imagens do evento coloco aqui no blog.
Hoje vou falar-vos do espectaculo nocturno "O Mundo de Pinóquio", uma co-produção do grupo alemão Titanick Theatre com o Acert e o Centro de Criação para o Teatro e Artes de Rua, que constituía uma parada, que percorria várias ruas feirenses, liderada por um impressionante Pinóquio de mais de sete metros de altura. Este engenho cénico é uma criação do Trigo Limpo teatro Acert.
Pinóquio é o símbolo de toda a criança que, sendo uma criação de adultos, anseia libertar-se de todas as suas manipulações, tornar-se autónoma e, fascinada pelo mundo à sua volta, tornar-se um adulto livre para o poder explorar todo. Ora, a parada mostra-nos o paradoxo deste pensar da criança com o sonho do adulto que tenta não deixar morrer a criança que existe em si e não se deixar instrumentalizar pelas regras sociais. O paradoxo está aqui: enquanto a criança sonha ser adulto, o adulto sonha ser criança e aprende, olhando para elas, que como adulto pode melhor concretizar esse seu sonho, usando toda a sua liberdade e capacidade criativa.
Em toda esta procissão moderna, que não deixa ninguém indiferente nem passivo, acompanham Pinóquio uma série de personagens adultas (militar, cientista, sacerdote, prostitutas, um rei, um mordomo, etc) que, diante do espanto de Pinóquio, lhe oferecem uma festa de dança, de música, de gastronomia, de espuma, de jogos de água, de luz, de pirotecnia e de som. O espanto de Pinóquio é o espanto das crianças diante dos momentos em que os adultos, pelos diferentes constituintes da festa e do convívio, se lhes manifestam como autênticos petizes que, deitando mão de toda a sua imaginação e capacidade técnica, conseguem trazer ao de cima todo o seu espírito infantil, que os liberta e os torna mais humanos e maduros. No espectáculo, Pinóquio vai participando, no festim agradecido que o mundo dos adultos lhe oferece, integrando-se em todas as dinâmicas criadas e dançando ao som de uma música ao vivo, tão delirante como poética que a ninguém era indiferente. Os adultos, num crescendo de saudável loucura e contagiante alegria, vão descobrindo que não só a sua potência criadora atinge níveis espantosos quando aposta no lúdico como espaço de encontro com o outro, como também intuem que quanto mais forem pessoas maduras mais têm a oportunidade de tornar mais vivo o espírito de criança que tanto buscam.
É um espectáculo de mais de uma hora que converge a si milhares de pessoas em que todos querem participar pois sentem que o mundo manipulador em que vivemos apenas nos quer como seres produtivos e consumidores, formatados e sem diversidade, incapazes do sonho e da festa. Não são, hoje, as crianças tão manipuladas económica, politica e culturalmente e, com elas, as suas famílias?
Estão aqui as novas linguagens simbólicas e reflexivas que as instituições mais antigas têm que assumir para não perderem relevância. Não posso deixar de escrever esta provocação sugerida pela minha participação no celebração eucarística de sábado, precisamente na Igreja Matriz de Santa Maria da Feira: Porque estava aquela magnífica igreja tão vazia? Porque é que, numa missa que era da catequese, só se viam sexagenários e, muito pontualmente, crianças, jovens e pessoas da classe etária 25-55? Eram 18,30 e as ruas à sua volta começavam a encher-se de pessoas que buscam linguagens que as motivem, surpreendam e as façam reflectir. Que as libertem das amarras discriminatórias e dos não-valores morais que lhes querem impor. Que encontram nas respostas tradicionais apenas o enfadonho repetir de fórmulas que ninguém compreende nem entende e que a ninguém toca emocional e intelectualmente.
Já que estou sem máquina fotográfica, logo que tiver imagens do evento coloco aqui no blog.
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