sábado, 8 de novembro de 2008

Jesus fez um chicote...


Como é estranho para nós cristãos ver Jesus de chicote na mão, cheio de zelo, a expulsar com violência os comerciantes, os cambistas e toda a sua quinquilharia “religiosa”! Não estamos acostumados, mas se lermos com atenção o Evangelho verificamos como Jesus era violento, como se indignava e entristecia com todos aqueles que pervertiam e usavam para benefício próprio a fé das pessoas: fariseus, sacerdotes, doutores da lei eram presenteados com epítetos de duros de coração, hipócritas, sepulcros caiados cheios de podridão, insensatos e cegos. (Cf. Mt 23)
Esta é a reacção de Deus quando fazemos da Sua casa uma casa de comércio e não de oração; é a reacção de Deus diante dos manipuladores do sagrado; é a reacção de Deus diante dos que fazem dos templos espaço de divisões sociais e escaparate de posses supérfluas; é a reacção de Deus diante de cultos vazios, palavrosos e distantes da dura realidade social dos homens e mulheres do nosso tempo.
Nos primeiros séculos do cristianismo a Igreja era a comunidade dos discípulos de Jesus presente em cada cidade. Hoje teoricamente também o é. Mas é necessário que isso se note nas nossas celebrações, nas palavras humanas lá emitidas, nos gestos e símbolos lá executados. Aí é necessário que se celebre que o lugar privilegiado do encontro de Deus com cada um é o coração de cada pessoa humana. Por isso, é urgente que os nossos templos sejam espaços onde se celebre alegremente a vida; se sinta a familiaridade dos crentes; se reconheça o valor de cada um, independentemente do seu estado; se use a música, a arte, a tecnologia, as luzes, os símbolos que digam algo de novo ao homem de hoje; se motive e se crie condições emocionais, afectivas, espirituais e racionais para que o culto em espírito e em verdade (Jo 4, 23) se torna uma realidade tanto no templo cristão como no mundo secular.
Que a celebração da dedicação da Basílica de S. João de Latrão seja uma oportunidade para todos, leigos e clero, termos a coragem de colocar em exame as nossas celebrações, os nossos ritos e a nossa vivência cristã litúrgica e temporal.

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