quinta-feira, 20 de novembro de 2008

"Há momentos na vida..."

Nestes dias que passam sem nada que os distinga caiu-me hoje no meu mail um texto luminoso e humano em que me revejo, nestes solarengos mas frios dias. É do padre Tolentino de Mendonça que mais uma vez fala do âmago do coração humano. Aí fica sem corruptores comentários:
"Há um momento na nossa vida, ou há momentos nela, em que fazendo um balanço, sentimos que ficámos aquém dos nossos próprios sonhos. Esperávamos isto e aquilo que não aconteceu. Desejávamos uma plenitude e temos uma estreita e estranha normalidade. Sentimo-nos, sem saber bem como, a viver sob tectos baixos. Há uma espécie de doçura prometida que nos escapa, que fica adiada, que começamos talvez a julgar inacessível. Por vezes, este sentimento vem aos 70 ou aos 40 anos. Mas também surge aos 20 ou aos 30. Não dependem propriamente da idade, os Outonos interiores que atravessamos.
Existem é modos diferentes de encarar essa experiência, que, no fundo, nos é tão intrínseca e comum. Podemos desistir simplesmente de esperar, e largamos a vida no parque de estacionamento do pragmatismo mais raso. Podemos trocar a doçura que não conseguimos, por um tipo de acidez quotidiana, que se vai espalhando, entre a ironia e o desalento. Ou podemos, e esse é o olhar da Fé (e esse é o olhar mais necessário), perceber que «a doçura que se não prova/se transfigura numa doçura/muito mais pura/e muito mais nova»."

José Tolentino Mendonça
20.11.2008

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