Neste advento proponho-me a imagem do castelo que é cada um de nós. Dizia Santa Teresa de Ávila que somos como que um castelo medieval cheio de recantos e passagens secretas. Mas o Advento não é um tempo para nos fixarmos penitencialmente no nosso interior. Este é o tempo para usarmos o nosso castelo para olhar para fora, olhar o horizonte, subir à torre de menagem e vigiar. Não uma vigia assustada pela possível chegada do inimigo, mas a vigia desejosa e esperançada pelo amigo que não vemos há muito, pelo filho que estuda a semana toda fora, pelo marido que vem das obras em Espanha, pelo amado ou amada que sempre nos faz esperar mesmo quando chega a horas, pelo filhos em geração no seio de sua mãe…
Quem espera seja quem for, incluindo o nosso Deus que tantas vezes desejamos que rasgue o céus e desça, não adormece no passo rotineiro dos dias e das relações mas perscruta todos os sinais em redor tentando discernir já a sua presença. Eduquemos o nosso olhar para aprendermos a ver ao longe e ao largo Aquele que vem e está sempre…
Não o sentimos nós quando esperamos o que amamos já tão vivo e presente em nós? Perguntemos às mães e elas nos ensinarão a vigiar.
domingo, 30 de novembro de 2008
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Sintra V - Quinta da Regaleira
A quinta da Regaleira é uma obra mistérica, fantasiosa, simbólica e, por vezes, fantasmagórica. O Palácio, a capela e os jardins espelham um plano rigoroso idealizado pelo seu proprietário, António Carvalho Monteiro, e pelo arquitecto Luigi Manini (Palácio do Buçaco). Dizem os estudiosos que todo o conjunto revela a ideologia e a estética do seu proprietário influenciadas (romantismo) por mitos templários, maçónicos e gregos.
Um dos mais impressionantes e enigmáticos espaços do jardim é o poço iniciático: uma escadaria em espiral afunda-se na terra (27 metros) e ao longo do seu percurso saem túneis escuros que vão ter a lugares simbólicos do jardim. Há uns anos tinha-se que percorrer esses túneis na escuridão completa, guiados pelo vento e pela ténue luz da sua saída.
Qualquer que fosse a intenção dos seus autores, este poço faz-me recordar o Homem que é chamado a percorrer o seu interior até ao mais profundo e escuro de si próprio para aí encarar corajosamente os seus fantasmas, as suas facetas mais tétricas, os seus medos mais enraizados. Só assim, se compreenderá e descobrirá que é na assunção do que é que se pode descobrir a largura e a profundidade do amor de Deus. De lá de baixo, olha-se o céu e, percebendo-se a distancia a que estamos d`Ele, descobrimos a falta que a Sua luz nos faz e de que, ainda assim, Ele nos ilumina e encaminha para o alto ou para o “jardim” que é o mundo (a vida) que ele nos deu.
Um dos mais impressionantes e enigmáticos espaços do jardim é o poço iniciático: uma escadaria em espiral afunda-se na terra (27 metros) e ao longo do seu percurso saem túneis escuros que vão ter a lugares simbólicos do jardim. Há uns anos tinha-se que percorrer esses túneis na escuridão completa, guiados pelo vento e pela ténue luz da sua saída.
Qualquer que fosse a intenção dos seus autores, este poço faz-me recordar o Homem que é chamado a percorrer o seu interior até ao mais profundo e escuro de si próprio para aí encarar corajosamente os seus fantasmas, as suas facetas mais tétricas, os seus medos mais enraizados. Só assim, se compreenderá e descobrirá que é na assunção do que é que se pode descobrir a largura e a profundidade do amor de Deus. De lá de baixo, olha-se o céu e, percebendo-se a distancia a que estamos d`Ele, descobrimos a falta que a Sua luz nos faz e de que, ainda assim, Ele nos ilumina e encaminha para o alto ou para o “jardim” que é o mundo (a vida) que ele nos deu.
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Sintra IV - Parque e Palácio de Monserrate
O parque e o palácio de Monserrat são criações românticas levadas a cabo por Francis Cook, um milionário inglês apaixonado pelo encanto de Sintra. Em 1856, este comerciante têxtil fez deste espaço a sua residência de férias.
Os jardins estão cheios de espécies de todos os lados do mundo e de pequenas construções (capelas, arcos, casas, estufas) e recantos (cascatas, relvados, jardins temáticos) que fazem lembrar um parque de diversões oitocentista. Mas surpreendente é o palácio de estilo neogótico inglês com fortes influências hindus e árabes. O interior, em restauro, é um cenário cinematográfico que nos inspira todo o tipo de romances.
Vinte e quatro horas depois de mais um atentado terrorista perpetrado por fanáticos islâmicos contra turistas ocidentais, em território indiano, conjecturo como seria diferente este nosso mundo se houvesse um arquitecto superior que, como o James Knowles (arquitecto do palácio), pegasse no melhor destras três culturas e edificasse, como por magia, um mundo de harmonia e salutar convívio. Mas não pode ser assim porque nem estamos num conto de fadas ou de deuses antigos nem os homens são como as pedras ou a madeira que tão maravilhosamente se deixam moldar e transformar pelas mãos dos artistas.
Os jardins estão cheios de espécies de todos os lados do mundo e de pequenas construções (capelas, arcos, casas, estufas) e recantos (cascatas, relvados, jardins temáticos) que fazem lembrar um parque de diversões oitocentista. Mas surpreendente é o palácio de estilo neogótico inglês com fortes influências hindus e árabes. O interior, em restauro, é um cenário cinematográfico que nos inspira todo o tipo de romances.
Vinte e quatro horas depois de mais um atentado terrorista perpetrado por fanáticos islâmicos contra turistas ocidentais, em território indiano, conjecturo como seria diferente este nosso mundo se houvesse um arquitecto superior que, como o James Knowles (arquitecto do palácio), pegasse no melhor destras três culturas e edificasse, como por magia, um mundo de harmonia e salutar convívio. Mas não pode ser assim porque nem estamos num conto de fadas ou de deuses antigos nem os homens são como as pedras ou a madeira que tão maravilhosamente se deixam moldar e transformar pelas mãos dos artistas.
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Sintra III - Convento dos Capuchos
O convento dos capuchos foi edificado em 1560 e constitui o mais surpreendente e menos conhecido monumento de Sintra. Não tem nada a ver com os grandiosos conventos seus contemporâneos, de estilo bem demarcado e de afirmação do poder e da riqueza da Igreja de então. É pequeno (oito celas), arquitectonicamente anónimo, com uma pequena e simples capela (ainda assim o edifício mais “solene”), um refeitório com uma laje de pedra a servir de mesa. Para entrar nas celas os monges tinham que ajoelhar-se dado o tamanho minúsculo das portas. O único luxo é o uso da cortiça dos sobreiros da cerca para isolamento de algumas divisões.
Um exagero de austeridade? Talvez. Mas é a reacção de uns poucos cristãos escandalizados pela então ostentação escandalosa da Igreja. Assim funciona o Espírito: não deixa de suscitar na sua Igreja homens e mulheres que indo contra a corrente dominante, desafiam as hierarquias e as regras vigentes por fidelidade à Palavra. Por isso, nada nos deve perturbar nem espantar nem desanimar diante da incompreensível cegueira de alguns incapazes de perceber os sinais dos tempos. O Espírito de Jesus Ressuscitado é como o convento dos capuchos: não se dá por ele, esta oculto no meio do mundo, é humilde e simples, quase ninguém o visita. Mas quem o descobre jamais o esquece.
Um exagero de austeridade? Talvez. Mas é a reacção de uns poucos cristãos escandalizados pela então ostentação escandalosa da Igreja. Assim funciona o Espírito: não deixa de suscitar na sua Igreja homens e mulheres que indo contra a corrente dominante, desafiam as hierarquias e as regras vigentes por fidelidade à Palavra. Por isso, nada nos deve perturbar nem espantar nem desanimar diante da incompreensível cegueira de alguns incapazes de perceber os sinais dos tempos. O Espírito de Jesus Ressuscitado é como o convento dos capuchos: não se dá por ele, esta oculto no meio do mundo, é humilde e simples, quase ninguém o visita. Mas quem o descobre jamais o esquece.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Sintra II - Castelo dos Mouros
O castelo dos mouros actual é fruto de mais uma reconstrução romântica liderada pelo rei mentor do palácio da Pena, D. Fernando II. Esta fortificação é de origem muçulmana e terá sido edificada no século IX. A sua função seria de atalaia da linha da costa e de Lisboa.
Eis uma bonita imagem do tempo do advento que se aproxima: vigiar. Eis uma bonita ideia para desenvolver nestes dias antes do natal. A vigilância cristã é ter a capacidade de subir ao alto dos nossos dias, dos nossos problemas e das nossas dores (e subir é sempre difícil) para nos deixarmos fascinar pela vista balsâmica, inspiradora e original da presença quotidiana do nosso Deus. Nestes quatro domingos vou tentar erguer a bandeira da esperança e da confiança n`Aquele que acampou entre nós.
Eis uma bonita imagem do tempo do advento que se aproxima: vigiar. Eis uma bonita ideia para desenvolver nestes dias antes do natal. A vigilância cristã é ter a capacidade de subir ao alto dos nossos dias, dos nossos problemas e das nossas dores (e subir é sempre difícil) para nos deixarmos fascinar pela vista balsâmica, inspiradora e original da presença quotidiana do nosso Deus. Nestes quatro domingos vou tentar erguer a bandeira da esperança e da confiança n`Aquele que acampou entre nós.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Sintra I - Palácio da Pena
Nos próximos cinco dias deixarei aqui algumas das reflexões pessoais suscitadas pelos diferentes edifícios que tive ocasião de admirar neste fim-de-semana em Sintra.
O palácio da Pena é fruto da recuperação romântica (entre 1842-54) do vazio e decadente mosteiro de Nossa Senhora da Pena. O seu grande mentor foi o Rei-Consorte D. Fernando II. Mais que uma obra de beleza impressionante, de dramático enquadramento paisagístico e de loucura figurativa, é expressão da capacidade humana de se reinventar e de não se satisfazer com a reprodução rotineira e estéril de ritos, fórmulas, liturgias e conceitos. Quando assim somos criativos novas cores despertam, sentimentos recalcados se soltam, compromissos se reforçam e os outros agradecem porque lhes damos, não o que eles queriam, mas o que não sonhavam ser possível experimentar.
O palácio da Pena é fruto da recuperação romântica (entre 1842-54) do vazio e decadente mosteiro de Nossa Senhora da Pena. O seu grande mentor foi o Rei-Consorte D. Fernando II. Mais que uma obra de beleza impressionante, de dramático enquadramento paisagístico e de loucura figurativa, é expressão da capacidade humana de se reinventar e de não se satisfazer com a reprodução rotineira e estéril de ritos, fórmulas, liturgias e conceitos. Quando assim somos criativos novas cores despertam, sentimentos recalcados se soltam, compromissos se reforçam e os outros agradecem porque lhes damos, não o que eles queriam, mas o que não sonhavam ser possível experimentar.
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Darei notícias na segunda
Daqui a pouco partirei para um fim de semana retemperador e longe do nosso espaço habitual. Vou até Sintra, onde regresso com muita satisfação porque é daqueles lugares que marcam quem lá passa um tempo e, não quem passa por lá.
Por isso, não colocarei a minha habitual reflexão ao evangelho deste domingo. Nem é preciso. Aqui fica a sua primeira parte e reconheçam que nada mais há a dizer... só a fazer.
"Jesus disse: «Quando o Filho do Homem vier na sua glória, acompanhado por todos os seus anjos, há-de sentar-se no seu trono de glória. Perante Ele, vão reunir-se todos os povos e Ele separará as pessoas umas das outras, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. À sua direita porá as ovelhas e à sua esquerda, os cabritos. O Rei dirá, então, aos da sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me que vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo.’ Então, os justos vão responder-lhe: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos peregrino e te recolhemos, ou nu e te vestimos? E quando te vimos doente ou na prisão, e fomos visitar-te?’ E o Rei vai dizer-lhes, em resposta: ‘Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes.’
Por isso, não colocarei a minha habitual reflexão ao evangelho deste domingo. Nem é preciso. Aqui fica a sua primeira parte e reconheçam que nada mais há a dizer... só a fazer.
"Jesus disse: «Quando o Filho do Homem vier na sua glória, acompanhado por todos os seus anjos, há-de sentar-se no seu trono de glória. Perante Ele, vão reunir-se todos os povos e Ele separará as pessoas umas das outras, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. À sua direita porá as ovelhas e à sua esquerda, os cabritos. O Rei dirá, então, aos da sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me que vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo.’ Então, os justos vão responder-lhe: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos peregrino e te recolhemos, ou nu e te vestimos? E quando te vimos doente ou na prisão, e fomos visitar-te?’ E o Rei vai dizer-lhes, em resposta: ‘Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes.’
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
"Há momentos na vida..."
Nestes dias que passam sem nada que os distinga caiu-me hoje no meu mail um texto luminoso e humano em que me revejo, nestes solarengos mas frios dias. É do padre Tolentino de Mendonça que mais uma vez fala do âmago do coração humano. Aí fica sem corruptores comentários:
"Há um momento na nossa vida, ou há momentos nela, em que fazendo um balanço, sentimos que ficámos aquém dos nossos próprios sonhos. Esperávamos isto e aquilo que não aconteceu. Desejávamos uma plenitude e temos uma estreita e estranha normalidade. Sentimo-nos, sem saber bem como, a viver sob tectos baixos. Há uma espécie de doçura prometida que nos escapa, que fica adiada, que começamos talvez a julgar inacessível. Por vezes, este sentimento vem aos 70 ou aos 40 anos. Mas também surge aos 20 ou aos 30. Não dependem propriamente da idade, os Outonos interiores que atravessamos.
Existem é modos diferentes de encarar essa experiência, que, no fundo, nos é tão intrínseca e comum. Podemos desistir simplesmente de esperar, e largamos a vida no parque de estacionamento do pragmatismo mais raso. Podemos trocar a doçura que não conseguimos, por um tipo de acidez quotidiana, que se vai espalhando, entre a ironia e o desalento. Ou podemos, e esse é o olhar da Fé (e esse é o olhar mais necessário), perceber que «a doçura que se não prova/se transfigura numa doçura/muito mais pura/e muito mais nova»."
José Tolentino Mendonça
20.11.2008
"Há um momento na nossa vida, ou há momentos nela, em que fazendo um balanço, sentimos que ficámos aquém dos nossos próprios sonhos. Esperávamos isto e aquilo que não aconteceu. Desejávamos uma plenitude e temos uma estreita e estranha normalidade. Sentimo-nos, sem saber bem como, a viver sob tectos baixos. Há uma espécie de doçura prometida que nos escapa, que fica adiada, que começamos talvez a julgar inacessível. Por vezes, este sentimento vem aos 70 ou aos 40 anos. Mas também surge aos 20 ou aos 30. Não dependem propriamente da idade, os Outonos interiores que atravessamos.
Existem é modos diferentes de encarar essa experiência, que, no fundo, nos é tão intrínseca e comum. Podemos desistir simplesmente de esperar, e largamos a vida no parque de estacionamento do pragmatismo mais raso. Podemos trocar a doçura que não conseguimos, por um tipo de acidez quotidiana, que se vai espalhando, entre a ironia e o desalento. Ou podemos, e esse é o olhar da Fé (e esse é o olhar mais necessário), perceber que «a doçura que se não prova/se transfigura numa doçura/muito mais pura/e muito mais nova»."
José Tolentino Mendonça
20.11.2008
domingo, 16 de novembro de 2008
Parabéns
Hoje é o aniversário da minha irmã Inês. Mais uma oportunidade para nos reunirmos todos. Mais uma oportunidade para lhe dizer como gostamos dela, como dela precisamos e como dela esperamos o espírito resoluto dos filhos da revolução (1975).
Para a Maria Inês desejo que este ano a ajude a definir-se como pessoa, mulher e cristã. Para que a casa que está a construir seja espaço familiar de realização e afirmação verdadeira dos seus mais profundos sentimentos. Feliz Aniversário.
Para a Maria Inês desejo que este ano a ajude a definir-se como pessoa, mulher e cristã. Para que a casa que está a construir seja espaço familiar de realização e afirmação verdadeira dos seus mais profundos sentimentos. Feliz Aniversário.
sábado, 15 de novembro de 2008
"Senhor, eu sabia que és um homem severo" Mt 25, 24
Confiado naquilo que sabia o servo de um só talento nada fez. Ele que só tinha visto a face dura do seu senhor, desconhecia a largura do seu coração. Ele que o confundira com um rei qualquer, esquecera-se que para Deus pior do que se enganar ou errar ou pecar é nada fazer, é comodamente permanecer no seu egoísmo fechado à novidade, ao outro, ao Espírito.
Todos temos muitos talentos (um talento correspondia a seis mil dias de trabalho!): a confiança ilimitada, livre e libertadora do Pai; o tempo oferecido em cada manhã e agradecido ao adormecer; o que cada um é, na sua originalidade única, indispensável, criadora e cheia de sonhos, vontades, desejos, ideias, utopias; a comunidade onde nascemos, crescemos, estudamos, trabalhamos e nos divertimos. Com tudo isto somos chamados a arriscar em vez de conservar; a olhar em frente em vez de chorarmos o passado; a não confiar num deus aprendido mas a arriscar ir ao Seu encontro e, numa relação pessoal quotidianamente alimentada, perceber a Sua criatividade amorosa; a não ter medo de se fazer ao largo da vida e no mundo porque não temos o direito de não nos darmos a conhecer, de não proporcionar aos outros o nosso abraço, de recusar o nosso sorriso e, para nós cristãos, de não doarmos esta alegria e tesouro de sermos totalmente amados e queridos por um Senhor que, afinal, não é tão terrível como tínhamos imaginado ou nos tinham contado.
Todos temos muitos talentos (um talento correspondia a seis mil dias de trabalho!): a confiança ilimitada, livre e libertadora do Pai; o tempo oferecido em cada manhã e agradecido ao adormecer; o que cada um é, na sua originalidade única, indispensável, criadora e cheia de sonhos, vontades, desejos, ideias, utopias; a comunidade onde nascemos, crescemos, estudamos, trabalhamos e nos divertimos. Com tudo isto somos chamados a arriscar em vez de conservar; a olhar em frente em vez de chorarmos o passado; a não confiar num deus aprendido mas a arriscar ir ao Seu encontro e, numa relação pessoal quotidianamente alimentada, perceber a Sua criatividade amorosa; a não ter medo de se fazer ao largo da vida e no mundo porque não temos o direito de não nos darmos a conhecer, de não proporcionar aos outros o nosso abraço, de recusar o nosso sorriso e, para nós cristãos, de não doarmos esta alegria e tesouro de sermos totalmente amados e queridos por um Senhor que, afinal, não é tão terrível como tínhamos imaginado ou nos tinham contado.
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Estamos sempre a aprender
O meu cunhado Ricardo ganhou na passada segunda-feira, num concurso radiofónico, dois bilhetes para o musical “Um Violino no Telhado”. Como não podia ir, perguntou-me se queria ir ver a encenação de Filipe La Féria. Aceitei desconfiado e, diga-se, com o distanciamento do preconceito. Acharia que não iria gostar de uma coisa tão popular e, ainda por cima, um musical. Mas lá fui porque a “cavalo dado não se olha ao dente”.
Pois meus amigos que bela bofetada recebi ontem à noite no esgotado Rivoli. O espectáculo é vistoso, grandioso, bem interpretado, bem cantado e dançado, e consegue agarra-nos e deitar por terra todas as manias intelectuais que por vezes nos assaltam. Gostei e gostei muito. E recomendo.
O musical é a história de uma família judaica que vive numa aldeia de judeus na Rússia dos czares. A tradição religiosa é a grande segurança dos seus habitantes, particularmente do protagonista (um soberbo José Raposo) que aos poucos a terá que ir abandonando por causa dos amores das suas filhas. Este pai pobre cederá ao casamento da filha mais velha com um pobre alfaiate; ao casamento da segunda filha com um revolucionário professor bolchevique; mas não cederá ao casamento secreto da terceira filha com um soldado cossaco e cristão ortodoxo. Não contarei o final da peça, apenas recordo o belo diálogo final daquele pai com o seu Deus: “Ó Deus se existes, quem és tu? Mas, se não existes, quem somos nós?”
Na verdade, na dor e na injustiça a pergunta do homem crente pelo seu Deus é indispensável, humana, decisiva, é condição para a fé. Mas sem ele qual o sentido de tudo, do nascer e do morrer, do lutar e trabalhar, do amar e sacrificar?
Confesso, não me entendo nem compreendo sem Ele.
Pois meus amigos que bela bofetada recebi ontem à noite no esgotado Rivoli. O espectáculo é vistoso, grandioso, bem interpretado, bem cantado e dançado, e consegue agarra-nos e deitar por terra todas as manias intelectuais que por vezes nos assaltam. Gostei e gostei muito. E recomendo.
O musical é a história de uma família judaica que vive numa aldeia de judeus na Rússia dos czares. A tradição religiosa é a grande segurança dos seus habitantes, particularmente do protagonista (um soberbo José Raposo) que aos poucos a terá que ir abandonando por causa dos amores das suas filhas. Este pai pobre cederá ao casamento da filha mais velha com um pobre alfaiate; ao casamento da segunda filha com um revolucionário professor bolchevique; mas não cederá ao casamento secreto da terceira filha com um soldado cossaco e cristão ortodoxo. Não contarei o final da peça, apenas recordo o belo diálogo final daquele pai com o seu Deus: “Ó Deus se existes, quem és tu? Mas, se não existes, quem somos nós?”
Na verdade, na dor e na injustiça a pergunta do homem crente pelo seu Deus é indispensável, humana, decisiva, é condição para a fé. Mas sem ele qual o sentido de tudo, do nascer e do morrer, do lutar e trabalhar, do amar e sacrificar?
Confesso, não me entendo nem compreendo sem Ele.
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Um Domindo à moda antiga
Ontem foi um domingo à moda antiga. Eu e os meus irmãos à volta da nossa mãe realizamos um almoço de domingo em família que há muito era desejado e não concretizado por desencontro de horários profissionais. Mas ontem tal foi possível para alegria e benefício de todos. Estes almoços são míticos na nossa casa: à volta da mesa conversa-se toda a tarde dos mais variados assuntos, os mais novos mantêm-se no convívio com os mais velhos, a televisão permanece desligada todo o dia, ninguém dá pelo passar do tempo.
Quando temos estas reuniões de família dois sentimentos me assaltam quando regresso a casa.
O primeiro é que, por defeito de formação e das anteriores actividades profissionais, tenho sempre a sensação de que falei muito, que monopolizei as conversas e que dei pouco espaço à serenidade firme e inteligente do Nuno, à atenção maternal alargada a todos da João, à imensa disponibilidade generosa da Inês e à solidez sofrida mas firme da nossa mãe coragem. É que se aprende muito quando se escuta…
O segundo sentimento é de orgulho porque, num respeito sagrado pela liberdade de cada um, raiz de qualquer amor oblativo, construímos uma família onde a diferença é valorizada, a vida celebrada e acolhida como mistério e sagrado.
Foi um verdadeiro dia do Senhor. Obrigado a todos.
Quando temos estas reuniões de família dois sentimentos me assaltam quando regresso a casa.
O primeiro é que, por defeito de formação e das anteriores actividades profissionais, tenho sempre a sensação de que falei muito, que monopolizei as conversas e que dei pouco espaço à serenidade firme e inteligente do Nuno, à atenção maternal alargada a todos da João, à imensa disponibilidade generosa da Inês e à solidez sofrida mas firme da nossa mãe coragem. É que se aprende muito quando se escuta…
O segundo sentimento é de orgulho porque, num respeito sagrado pela liberdade de cada um, raiz de qualquer amor oblativo, construímos uma família onde a diferença é valorizada, a vida celebrada e acolhida como mistério e sagrado.
Foi um verdadeiro dia do Senhor. Obrigado a todos.
sábado, 8 de novembro de 2008
Jesus fez um chicote...
Como é estranho para nós cristãos ver Jesus de chicote na mão, cheio de zelo, a expulsar com violência os comerciantes, os cambistas e toda a sua quinquilharia “religiosa”! Não estamos acostumados, mas se lermos com atenção o Evangelho verificamos como Jesus era violento, como se indignava e entristecia com todos aqueles que pervertiam e usavam para benefício próprio a fé das pessoas: fariseus, sacerdotes, doutores da lei eram presenteados com epítetos de duros de coração, hipócritas, sepulcros caiados cheios de podridão, insensatos e cegos. (Cf. Mt 23)
Esta é a reacção de Deus quando fazemos da Sua casa uma casa de comércio e não de oração; é a reacção de Deus diante dos manipuladores do sagrado; é a reacção de Deus diante dos que fazem dos templos espaço de divisões sociais e escaparate de posses supérfluas; é a reacção de Deus diante de cultos vazios, palavrosos e distantes da dura realidade social dos homens e mulheres do nosso tempo.
Nos primeiros séculos do cristianismo a Igreja era a comunidade dos discípulos de Jesus presente em cada cidade. Hoje teoricamente também o é. Mas é necessário que isso se note nas nossas celebrações, nas palavras humanas lá emitidas, nos gestos e símbolos lá executados. Aí é necessário que se celebre que o lugar privilegiado do encontro de Deus com cada um é o coração de cada pessoa humana. Por isso, é urgente que os nossos templos sejam espaços onde se celebre alegremente a vida; se sinta a familiaridade dos crentes; se reconheça o valor de cada um, independentemente do seu estado; se use a música, a arte, a tecnologia, as luzes, os símbolos que digam algo de novo ao homem de hoje; se motive e se crie condições emocionais, afectivas, espirituais e racionais para que o culto em espírito e em verdade (Jo 4, 23) se torna uma realidade tanto no templo cristão como no mundo secular.
Que a celebração da dedicação da Basílica de S. João de Latrão seja uma oportunidade para todos, leigos e clero, termos a coragem de colocar em exame as nossas celebrações, os nossos ritos e a nossa vivência cristã litúrgica e temporal.
Esta é a reacção de Deus quando fazemos da Sua casa uma casa de comércio e não de oração; é a reacção de Deus diante dos manipuladores do sagrado; é a reacção de Deus diante dos que fazem dos templos espaço de divisões sociais e escaparate de posses supérfluas; é a reacção de Deus diante de cultos vazios, palavrosos e distantes da dura realidade social dos homens e mulheres do nosso tempo.
Nos primeiros séculos do cristianismo a Igreja era a comunidade dos discípulos de Jesus presente em cada cidade. Hoje teoricamente também o é. Mas é necessário que isso se note nas nossas celebrações, nas palavras humanas lá emitidas, nos gestos e símbolos lá executados. Aí é necessário que se celebre que o lugar privilegiado do encontro de Deus com cada um é o coração de cada pessoa humana. Por isso, é urgente que os nossos templos sejam espaços onde se celebre alegremente a vida; se sinta a familiaridade dos crentes; se reconheça o valor de cada um, independentemente do seu estado; se use a música, a arte, a tecnologia, as luzes, os símbolos que digam algo de novo ao homem de hoje; se motive e se crie condições emocionais, afectivas, espirituais e racionais para que o culto em espírito e em verdade (Jo 4, 23) se torna uma realidade tanto no templo cristão como no mundo secular.
Que a celebração da dedicação da Basílica de S. João de Latrão seja uma oportunidade para todos, leigos e clero, termos a coragem de colocar em exame as nossas celebrações, os nossos ritos e a nossa vivência cristã litúrgica e temporal.
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Que semana!
A semana que está a chegar ao fim foi uma semana de acontecimentos auspiciosos. Terminei o meu caderno de actividades para a unidade lectiva que elaborei para os alunos do ensino secundário de EMRC. Essa unidade lectiva 7 , Ciência e Tecnologia, acabou de ser publicada (a imagem é da capa, com a devida vénia ao coordenador deste trabalho, José Rui Teixeira).
Também recebi boas novas da faculdade de filosofia: tive equivalência a nove disciplinas, o que equivale a cinquenta e quatro créditos. Ficam assim a faltar cento e vinte e seis créditos para terminar a licenciatura, o que penso conseguir até 2010. E estou convencido que ainda vou ter equivalência a algumas disciplinas de opção. São de facto excelentes notícias. Assim já me inscrevi a duas disciplinas do segundo ano: Estética I e Filosofia das Ciências I. Não vai ser fácil apanhar este comboio em andamento mas tenho que fazer este esforço para colocar a render o mais depressa possível os meus saberes.
Nestas alturas é um imperativo de consciência agradecer a todos aqueles que tornaram possíveis estas sucessos e nunca deixaram de me apoiar e ajudar para a sua consecução. Agora há que continuar a trabalhar: existem mais três unidades lectivas para elaborar e, claro, uma licenciatura para completar.
Também recebi boas novas da faculdade de filosofia: tive equivalência a nove disciplinas, o que equivale a cinquenta e quatro créditos. Ficam assim a faltar cento e vinte e seis créditos para terminar a licenciatura, o que penso conseguir até 2010. E estou convencido que ainda vou ter equivalência a algumas disciplinas de opção. São de facto excelentes notícias. Assim já me inscrevi a duas disciplinas do segundo ano: Estética I e Filosofia das Ciências I. Não vai ser fácil apanhar este comboio em andamento mas tenho que fazer este esforço para colocar a render o mais depressa possível os meus saberes.
Nestas alturas é um imperativo de consciência agradecer a todos aqueles que tornaram possíveis estas sucessos e nunca deixaram de me apoiar e ajudar para a sua consecução. Agora há que continuar a trabalhar: existem mais três unidades lectivas para elaborar e, claro, uma licenciatura para completar.
domingo, 2 de novembro de 2008
Entre flores e luzes
Nestes dois primeiros dias de Novembro a nossa sociedade é obrigada a olhar para aquela realidade que tenta ocultar e ignorar permanentemente: a morte. Mas essa é a grande realidade da vida e tentar negar isso além de ser uma alienação, é também o medo de não ter nada a dizer sobre o sentido da existência humana.
O que mais me impressionou durante muitos anos de vida pastoral foi saber que para muitos cristãos o cemitério é realmente o fim daqueles que mais amavam. Recordo aqueles pais em que a dor insuportável da morte mais inaceitável (um filho) os levou quase à loucura ou ao vazio. Recordo aqueles que vi morrer à minha frente com uma serenidade misteriosa impondo o silêncio misterioso que levanta a questão misteriosa: que instante é esse em que se deixa de pertencer ao mundo e ao tempo? Ninguém sabe o que é morrer.
Mas nós os crentes temos que afirmar algo que por muito que custe é urgente sublinhar: nos cemitérios não está lá ninguém, somente os que lá vão homenagear os seus mais queridos que perdendo tudo o que tinham, acreditamos que continuam a ser. A sua personalidade, o seu ser mais profundo, aquele ser pessoal que nós amamos em vida, está inscrito no coração amoroso de Deus. Por isso, não rezamos pelos mortos mas com os mortos.
Se não houver ressurreição dos mortos Deus não existe. Exigi-o a morte das crianças, dos jovens, dos filhos, dos inocentes, de Cristo.
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