Têm sido semanas intensas, mas carregadas de momentos profundos, de convívios significativos, de experiências novas e originais. Na sexta, voltamos a encher a capela do colégio com alunos, pais e professores em mais uma oração Taizé; temos vindo a realizar celebrações marianas com as diferentes turmas desde o pré-escolar até ao 12º ano; na semana passada lançamos uma campanha de apadrinhamento de crianças da vila de Rabo de Peixe para que possam participar numa colónia de férias organizada pelos jesuítas (a participação de cada criança fica por 50 euros); no sábado, dia 15, fizemos um retiro para professores, na Casa da Torre, em Soutelo, em que tive a honra de apresentar uma perspectiva bíblica e espiritual da missão do professor católico e tive o privilégio de participar numa reflexão conjunta sobre o específico da escola católica e o que isso nos exige de mudança e regresso às raízes; participei, no domingo, dia 16, na celebração da primeira comunhão de uma família amiga que teve a simpatia de me convidar; vou recebendo amigos e familiares lá em casa que, quebrando rotinas, estreitam laços sempre indispensáveis; algumas aulas da faculdade vão-se acumulando no caderno à espera de serem transcritas a computador para melhor estudar para os exames (são seis e o primeiro é já no dia 9 de Junho); e vou acompanhando o florescer de uma vida, aprendendo com ela a missão do amor e a exigência da sua realidade.
No meio de tudo isto tenho tido dificuldade em dedicar um pouco mais de tempo a este espaço. Há muito que queria ter escrito algo sobre a crise económica que se tem agudizado e tem justificado mais e mais sacrifícios.
Peço desculpa, mas vou ter que me citar. Em 26 de Setembro escrevia neste espaço:
Portugal vive uma situação dramática que a maioria das famílias (as que têm um emprego com um ordenado médio) não tem noção porque as juros estão muito baixos, não existe inflação, houve aumentos significativos na função pública e até o petróleo tem estado controlado. Portugal tem uma dívida externa gravíssima, que fará com que seja cada vez mais difícil e caro conseguir dinheiro emprestado para o estado e para os bancos; Portugal gasta muito mais do que aquilo que produz e isso, a médio prazo, vai-se pagar; Portugal tem um endémico problema na formação da sua mão de obra que não se resolve com oferta de novas oportunidades; Portugal tem uma segurança social que estará cada vez mais sobre pressão não só com o aumento do desemprego como também com o envelhecimento da população; Portugal não tem uma visão estratégica para o seu futuro produtor seja na agricultura e nas pescas seja no seus diferentes sectores industriais; Portugal tem um estado que absorve grande parte da riqueza que produzimos anualmente porque tem muitos funcionários e mal distribuídos, porque faz muita coisa que os privados poderiam fazer, porque pensa que tem que ajudar tudo e todos (empresas, associações, artistas, etc, etc), porque anseia tudo controlar e desconfia de tudo o que é privado. Portugal vive uma situação decisiva da sua história e que se nada se fizer levará ao seu definhamento progressivo, que, se formos sensatos, já vamos vivendo há pelo menos catorze anos (digam-me quando não se disse que estávamos em crise?).
Na altura, em conversas familiares disseram-me que estava a exagerar. Que nunca estariam em causa direitos adquiridos, patamares remuneratórios, que haveria sempre dinheiro para os ordenados do estado e das autarquias, que eram visões catastrofistas, etc, etc.
Não foi preciso um ano para tudo ser ainda mais grave. Não vou fazer considerações políticas, nem procurar culpados porque tudo isso fica-se pela rama do problema.
A crise portuguesa é, antes de mais, uma crise ética. O dinheiro perdeu valor; o viver com o que se tem é antiquado; ser moderado nos gastos e implacável no supérfluo é salazarento; pagar o que se deve a tempo e horas é para os "anjinhos"; honrar a palavra dada é desmentido todos os dias e pelos mais responsáveis do país; valorizar o trabalho e a produção é do século XIX; o não assumir responsabilidades pelo que se faz, pela forma como se governa, pela vida que se leva; vive-se como se não houvesse amanhã, como se não houvesse pensionistas, doentes, crianças em idade escolar, trabalhadores daqui a 50 anos; tudo comprar porque tudo se vende e tudo e todos têm um preço é o único critério moral de muitos portugueses.
Mas mesmo assim, muitos teimam em não ver para lá da sua casa, da sua conta bancária, do seu futuro imediato (as próximas férias de Verão), dos objectivos partidários, do próximos aperto europeu. Nada mudará se não mudarmos de atitude. Não se estancará os gastos se não mudarmos de paradigma económico e estatal. Nada seremos se não formos verdadeiros com o que somos e temos, em como trabalhamos e produzimos, em como governamos e somos governados. Não haverá resolução de nenhuma crise, enquanto perdurar o momento, o imediato, as próximas eleições, a exterioridade, enfim a mentira. E, uma crise ética é muito mais difícil e lenta de resolver do que qualquer crise económica.
terça-feira, 25 de maio de 2010
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