E eis que se fecha o ciclo pascal. Sob o paradoxo portas fechadas/portas abertas celebramos o Pentecostes cristão, isto é, a festa judaica que celebrava a entrega da lei de Deus, por Moisés, no monte Sinai transforma-se na celebração do Espírito que vem em auxílio da nossa fraqueza e torna possível o mandamento do amor de Jesus.
No Evangelho de hoje, Jesus ressuscitado oferece o Espírito com um sopro. No início da Bíblia, no livro do Génesis, o homem torna-se um ser vivente porque Deus soprou nas suas narinas um hálito de vida. Na tarde daquele primeiro dia da semana, Jesus sopra sobre os seus discípulos o ar de que se alimenta e em que age todo o cristão: o Espírito de Cristo ressuscitado. E é por este Espírito, esta graça de Deus ao homem, que somos capazes do amor, do perdão, da oração, da solidariedade, da fé...
O cristão está de portas abertas ao mundo e sai ao encontro de todos os homens porque é impelido pelo Espírito, por esse vento de que se escuta a voz (Cf. Jo3, 8), e, tal como a leitura paradigmática dos Actos dos Apóstolos (Act 2, 1-11), é compreendido por todos os homens. Como? Porquê? Porque fala a linguagem do amor. Porque faz-se reconhecer como cristão (ou assim se deve fazer reconhecer) da mesma forma que Jesus se dá a conhecer no meio dos seus discípulos: "mostrou-lhes as mãos e o lado". Isto é, de mãos abertas e de lado rasgado como claros sinais de amor. Assim, todos nos compreenderão porque corajosamente afirmamos e agimos à imagem do amor do Mestre. Melhor, afirmamos e agimos imbuídos e movidos pelo Espírito de Jesus Ressuscitado: de mãos abertas oferecendo o perdão, de lado aberto que expõe a dimensão do coração de Deus, de lado aberto a acolher todo aquele que aceita e dá oportunidade a Deus amor. A retenção do perdão acontece a quem não se deixa amar, a quem não necessita de Deus porque não se sente humilde, frágil e pecador. A esse o cristão, a Igreja de portas abertas da manhã de Páscoa e de Pentecostes não promoverá juízos condenatórios, não perseguirá, não ostracizará, não lhe negará o sal da Palavra, nem a Luz do Caminho, nem o sentido da Vida, apenas o amará como o Pai da parábola do Filho Pródigo, paradigma do Deus cristão.
Vem Espírito Santo, que o teu sopro escancare as portas da Igreja e de cada um nós para que, de mãos abertas (para dar e receber) e de coração limpo (sem fingimento) , o mundo Te encontre e se deixe mover interiormente porque só assim age a lei do amor. Para que seja cada vez mais real a promessa de Deus escutada em Vigília Pascal, pelo Profeta Ezequiel: "Dar-vos-ei um coração novo e infundirei em vós um espírito novo. Arrancarei do vosso peito o coração de pedra e dar-vos-ei um coração de carne". (Ez 36, 25-26)
domingo, 23 de maio de 2010
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