domingo, 7 de fevereiro de 2010

V Domingo do Tempo Comum

O pescador Pedro e os seus companheiros de trabalho são a imagem de homens cansados e desiludidos com a sua vida, com o seu trabalho e com o rumo dos acontecimentos. Experimentam a esterilidade dos seus esforços, a imutabilidade da sua inserção social e profissional, a sede de algo que os motive e justifique a sua labuta e as suas opções. Aqueles pescadores são a imagem do homem contemporâneo que procura saciar o seu vazio, a sua sede, o carácter efémero das suas apostas em fontes de alegria que nada podem oferecer, que nada alimentam, que nada realizam. O mar dos dias contemporâneos é assim: uma calma anestesiante ou um furor que momentaneamente entusiasma, mas deixa o sabor amargo de todas as ressacas.
A palavra de Jesus a todos nós que experimentamos aquelas sensações é só uma: "Faz-te ao largo e lançai as redes para a pesca". Traduzindo à letra: vai até à profundidade e lançai as vossas redes, isto é procura o que é profundo, o âmago do essencial e actua com os outros, em comunidade, em favor da comunidade. E o homem de hoje, um profissional de tanto conhecimento e tecnologia (tal como Pedro, um técnico da arte da pesca), liberta-se disso tudo e, armado com a única coisa que vale - a Palavra do Mestre -, lança-se no mundo ao serviço dos homens. Sabe que é indigno do amor do Mestre, sabe que o Seu amor é absolutamente gratuito e sabe que este Deus jamais se afastará de si. E por isso, aceita libertar os outros da efemeridade dos valores do nosso tempo: o dinheiro, o poder, a fama, o momento, o comodismo, o centralismo no meu eu. Parte para o mundo para os homens servir, não como um iluminado, mas com a humildade dos filhos de Deus porque se sabe chamado por Ele sem qualquer mérito da sua parte.
O milagre de Jesus não foi ter enchido aquelas redes. O milagre de Jesus foi ter despertado aqueles desanimados homens a erguerem a cabeça, a confiarem na Sua palavra, a não desistirem, a não se renderem ao inevitável e a acreditarem que eram capazes de com Ele encherem o vazio das redes dos homens do seu tempo. Nós os cristãos somos filhos desta confiança entusiasmada. Deixaremos descendência?

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