sexta-feira, 13 de março de 2009

Debruçar-me

Ontem ao deitar reli estas palavras: "Segundo me pareceu, disse que Marx foi transformando um pouquinho o seu conceito, mas não penso que precisasse de reformá-lo, pois a religião é realmente muitas vezes ópio para o povo. A religião pode realmente ser ópio do povo. Não é uma palavra de insulto. Evidentemente, não é uma palavra ofensiva na medida em não se refere ao Cristianismo nem a Cristo que continua vivo no Espírito. Mas, repito, muitas vezes para o povo a religião no geral não significa nada de transcendente".
Foi com um grande prazer que encontrei estas palavras porque dizem aquilo que há muito tempo venho dizendo: Deus não nos quis religiosos, o Deus cristão não é um Deus da religião. Não pede sacrifícios, não exige ritos, não julga, não castiga, não se fecha num templo nem num lugar de peregrinação, não pede evasões nem é invasivo. Apenas se debruça sobre nós para que nos debrucemos sobe aquilo que nos transcende: o outro e o Outro. Por isso, hoje faço quaresma abstendo-me.
Ah, o autor daquela frase era um homem de coragem, que cada vez mais vai faltando a muitos nestes tempos de crise, em que tantos dela necessitam: era o Bispo (como vão longe esses tempos em que os Bispos eram pessoas de coragem e de esperança!) do Porto, D. António Ferreira Gomes.

1 comentário:

Salete disse...

Ter coragem para fazer afirmações, obriga a ter coragem para assumir as suas consequências!
Nunca sabemos como serão interpretadas as nossas palavras, como serão recebidas pelos outros em geral... ou por aqueles a quem se dirigem em particular!
Quando vivemos num tempo em que a frontalidade pode gerar represálias...
Em que o individualismo impede cada um de tentar perceber o alcance das palavras do outro e a intenção subjacente às mesmas...
O comodismo acaba por instalar-se e o silêncio substitui a nossa opinião...
Escolher entre a coragem de falar, que nos pode esmagar... ou entre a mordaça que limita a nossa liberdade de expressão... eis a questão!
Será assim quando falamos de alguém comum, cujas opiniões não interferem com a vida dos outros.
Diferente deverá ser a atitude daqueles, que pela posição que ocupam, têm o dever de falar, de emitir a sua opinião, sob pena do silêncio significar aceitação...