sábado, 14 de março de 2009

D. Hélder Câmara

O artigo de opinião de Anselmo Borges hoje no Diário de Notícias recordava que no passado dia 7 de Março celebrou-se o centenário do nascimento de D. Hélder Câmara, bispo do Recife e de Olinda, no Nordeste brasileiro. Este homem foi um dos grandes profetas do século XX e viveu o seu cristianismo da única forma possível: radicalmente. E por isso foi perseguido politica e religiosamente.
Como escrevia Anselmo Borges: D. Hélder "Queria uma Igreja pobre, ao serviço dos pobres. Ele próprio deu o exemplo: no Recife, viveu 21 anos numa casa pequena e modesta, aberta a todos
". Recusou os palácios, abriu a sua casa como o seu coração a todas as pessoas, recusou ficar fechado e isolado no seu poder ou nas suas angústias. Não tinha medo das pessoas nem do que as outras comentassem.
Sonho e rezo a este grande Santo para que a voz de Cristo nos renove como Igreja. Deixo-vos uma oração/desafio que um dia D. Hélder teve a coragem de dizer. Para ler, meditar e agir.

A Igreja

Por que se fala sempre de prática religiosa
e nunca de prática evangélica, feita de amor e de coragem,
de serviço aos outros?
E tarefa das comunidades cristãs
fazer que andem juntas prática evangélica e prática religiosa
até se tornarem uma só e mesma coisa,
como na tarde da Quinta-Feira Santa.

Fala-se muito de crise de autoridade na Igreja,
e mesmo de crise de fé.
Minha experiência pessoal permite-me afirmar
que há uma crise de autoridade, sobretudo
quando as autoridades não têm a coragem de aceitar as consequências
das opções que estudaram, deliberaram, votaram e assinaram.

O moralismo e o jurisdicismo fizeram muito mal à Igreja.
São gravemente responsáveis pela partida de muitos,
pela indiferença de um número ainda maior de outros,
e pela falta de interesse dos que
poderiam olhar a Igreja com simpatia
mas são tomados de desânimo diante do nosso farisaísmo.

Se não estou enganado
nós, homens de Igreja, deveríamos realizar dentro dela
aquelas mudanças que exigimos da sociedade.

Nós, os excelentíssimos,
estamos necessitados de uma excelentíssima reforma!
Basta! de uma Igreja que quer ser servida;
que exige ser sempre a primeira;
que não tem o realismo e a humildade de aceitar a condição
do pluralismo religioso...

Jesus diz que ele é a porta do aprisco, do cercado.
Então, por que temos a tão frequente tentação
de sermos nós mesmos a porta?
É preciso que se passe por nossa porta,
nossas definições, nossa maneira de falar!
Mas, não! Cristo basta! Basta uma porta, Cristo!

Ah! quando chegaremos a ajudar a Igreja de Cristo a libertar-se...
Pois, para ajudar na libertação do mundo,
é preciso ajudar a libertar o papa, a libertar os bispos, a libertar os cristãos...

1 comentário:

Salete disse...

Que texto fantástico, verdadeiramente inspirador!
Quando alguém ousa falar assim, escandaliza os seus, mas tem uma multidão de crentes a segui-lo!
Só a coerência típica da radicalidade de uma vida, faz de alguém um exemplo a seguir.
Ontem comemoramos o aniversário da partida de Chiara Lubich, uma mulher que pela radicalidade do seu modo de viver o evangelho, abriu novos horizontes à Igreja.
Com a sua vida abraçou um Cristo cruxificado, revelou-o a Ele e seguindo-O fez com que outros vissem nela a porta para o Pai,sempre através do outro.
Nunca se mostrou a ela própria, nem quis ser a porta.
É de homens e mulheres assim que o nosso tempo necessita!