domingo, 29 de março de 2009

5º Domingo da Quaresma

Se há uma semana percebíamos a dimensão medicinal da morte de Jesus, da Sua forma de viver e de nos transmitir o verdadeiro e único sentido do amor. Hoje é-nos transmitida a dimensão fecunda da forma de Jesus viver a vida e de a entregar.
Jesus sabe que dar a vida é a única forma de a viver em toda a sua plenitude. Está convicto que só assim transformará o rumo violento e marginalizador da história. Avisa os seus seguidores que só o podem ser, se o seguirem como quem nada mais espera senão dar. Mas também sente e está consciente da violência que o espera, da injustiça que lhe preparam. E teme. E perturba-se. E "com grandes clamores e lágrimas" se dirigirá ao Pai. Tal como hoje são tantos que se perturbam pela progressiva perda de qualidade de vida, tal como hoje cresce o caudal dos empobrecidos silenciosos que se sentem incapazes de fazer frente ao desemprego e ao crescente custo do dia a dia, tal como hoje tantos inocentes são despedidos, tantos responsáveis são absolvidos e ajudados, tantos fazem ouvidos moucos ao drama da fome, da miséria, da doença, da falta de tempo para os seus, do cansaço de tantos homens e mulheres perdidos e deprimidos, nos meios desumanos e desumanizastes das nossas cidades, das nossa empresas, do nosso mundo.
Dizia alguém que quando se deixa de acreditar em Deus, passa-se a acreditar em qualquer coisa. Acrescento eu, passa-se a acreditar num estilo de vida que não dá vida, que escraviza, que mata insidiosamente, mantendo-nos vivos. Nisto religiosos e homens do nosso tempo estão mais uma vez muito próximos: nenhum sabe o que é viver. Os primeiros acham que viver é aguentar os sacrifícios e as dores da vida com paciência e resignação porque tudo são dom de Deus. Os segundos, fugindo em frente, tentam viver já tudo como se nunca houvesse amanhã. Aos primeiros Jesus diz-lhes que tudo aquilo é obra nossa, das nossa injustiças, da nossa surdez e desconfiança em relação aos outros, da nossa incapacidade de darmos a vida pela transformação do mundo sem pactos interessados com os poderes deste mundo. Aos segundos Jesus apela que olhem a natureza e que concluam que nada do que existe é possível sem dádiva, sacrifício, morte. Tantos uns como outros vivem o egoísmo nas suas duas faces mais distintas: comodistamente e insensatamente.

Senhor Jesus não quero estabilidade nem compromissos.
Apenas te peço desinstalação.
Toda a minha vida o tenho tentado.
Renunciei a tanto e olhando o futuro, encontro-me sem horizontes.
Não estou parado, bem o sabes,
Nem espero que do céu chova a segurança.
Apenas me entrego nas tuas mãos
Porque sinto valer mais que os lírios do campo e as aves do céu.
Sei que não ficarei envergonhado.
E por isso me deixo, qual grão de trigo,
Adormecer oblativamente, envolvido pela terra que todos os dias percorro com os outros homens

1 comentário:

Salete disse...

Temos uma vida única!
Tão poucos percebem a noção de finitude inerente e associada à nossa vida!
Porque é única, devemos vive-la dando-lhe um sentido pleno, viver por um ideal que não passe, que seja maior do que nós...
Entrega-la por algo que não desmorone...
ELE propõe-nos "coisas" grandes, resta-nos acolher e dizer sim...
Acredito, que esta é a única forma de a viver em toda a sua plenitude...