domingo, 22 de março de 2009

4º Domingo da Quaresma

Nas suas palavras, Jesus volta a subir: "o Filho do homem será elevado" para nos colocar diante de uma decisão: acreditas no amor?
Esta é a questão decisiva porque só quem entende o que é amar é que pode olhar para o desfigurado crucificado e vislumbrar o comentário de João: "Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito". Nele vemos o poder do nosso pecado, da nossa violência, do nosso desprezo, tal como vemos hoje esse poder nos desiludidos e desanimados, nos maltratados e explorados, nos inocentes e pequeninos esfomeados e usados. Nele vemos o nosso imenso poder, capaz de matar o inocente, o bom, o amigo, o familiar, o próximo, Deus. Mas Nele vemos também o imenso amor de Deus que não faz frente à minha violência, que não responde à infidelidade com castigo, mas que abraça todo o meu pecado e fragilidade porque essa é a única forma de transformar e dissolver toda a minha desconfiança, de expor a serpente que afinal não é exterior a mim, mas que, insidiosamente, me quer transformar por dentro. E o remédio está no amor de que a cruz é sinal.
Escândalo! Dirão os religiosos. Então como pode Deus não castigar tanta infidelidade humana? Não agirá Deus como diz a primeira leitura de hoje: "a tal ponto que deixou de haver remédio perante a indignação do Senhor" (2 Cr 36)? Como pode a salvação acontecer a quem contempla a cruz e acredita?
Loucura! Dizem os homens do nosso tempo. Como pode um vencido da vida dar a salvação? Como pode um homem atirado para as margens do lucro, do sucesso, da boa imagem ser fonte de felicidade? Como se pode pensar que amar é morrer, é dar a vida e não é gozar a vida vertiginosamente como se fosse acabar amanhã?
Este dois (religiosos de sempre e cultura de hoje) têm algo em comum que hoje se desmascara: não acreditam no amor. Para os primeiros, Deus é justiça mais que amor; Deus recompensa já aqui os fiéis e justos e nunca gratuitamente. Para os segundos, amar é viver a vida com sucesso e não morrer pelo outro. Por isso, ao pé da cruz no calvário uns pedem um milagre que resolva todas as injustiças(crentes) e os outros, tão imunes às imagens de violência e tão cínicos, fazem um zapping para o próximo anúncio publicitário.

O teu amor, Senhor, precede-me a transcende-me.
Amas-me antes que te conhecesse.
E, não jogando com as armas dos homens,
ultrapassas sempre em volume e generosidade o meu persistente pecado, perdoando.
Melhor, o teu perdão abraça-me e me envolve descongelando toda a minha solidez fria e presunçosa.
Aos pés da cruz não tenho melhor palavra que a do ladrão:
Lembra-te de mim, Senhor.

2 comentários:

Salete disse...

Ter consciência de que seguimos UM Cruxificado (que por AMOR entregou a VIDA), leva-me a reflectir sobre a nossa capacidade de amar... a nossa capacidade de entrega ao outro e ao projecto que escolhemos, reflexo do nosso SIM...
Estaremos também nós dispostos a dar a nossa vida?
Não aquela entrega fisica, mas nos gestos diários, no contacto com cada um...
Fazer-se nada... criar vazio... com a consciência de que só assim nos "preenchemos"!
Deixar que ELE actue e intimamente repetir-LHE faça-se...
Quero ser capaz de "dar a vida", usando a SUA medida!

Catarina disse...

Contempelar a cruz ajuda-nos a refletir e a tomar conciência de todo o que nós fazemos de mal mas tambem a pensar naquilo que pode ser feito... Jesus veio ao mundo entregar a sua vida para nos salvar não pedindo nada em troca apenas a nossa boa vontade para sermos capazes de seguir o Seu caminho, ajudando o nosso proximo nos caminhos dificeis que têm que enfrentar... Espero que eu seja capaz de seguir o caminho que Ele nos propõe "dar a vida"...