sábado, 7 de março de 2009

2º Domingo da Quaresma

Nesta quaresma somos sempre chamados a subir. Subimos ao deserto para nos identificarmos com Jesus tentado. Subimos, hoje, ao monte para tentar perceber o significado de uma manifestação, que parece estar nos antípodas da de domingo passado, porque hoje, aqueles que a visualizam, parecem gostar e querer lá ficar para sempre, sentimento não habitual para quem vai ao deserto.
Porque acontece a transfiguração de Jesus? Como pode este acontecimento tão estranho ter algo a dizer-nos hoje?
Mais que uma prova da futura ressurreição gloriosa de Jesus (a leitura habitual), no monte Tabor percebemos que Jesus é a palavra final e definitiva de Deus, é a própria voz de Deus que se nos dirige directamente sem subterfúgios nem linguagens codificadas, é o sinal de que os profetas do passado foram cumpridos e ultrapassados. Nesse monte também percebemos que a lei já não são os dez mandamentos do monte Sinai, mas o próprio Jesus, único e verdadeiro critério de acção ("Amai-vos como Eu vos amei").
Afinal, quem encontram os três discípulos depois de escutarem a voz do Pai? "Olhando em redor, não viram mais ninguém, a não ser Jesus, sozinho com eles". Eis o escândalo para os religiosos: não temos leis, mas Jesus; não temos segredos, mas a limpidez das Suas palavras e da sua acção; não temos mediadores sagrados e distantes mas um Deus que se recusa a ficar no alto do monte teofánico e desce com os seus para regressar ao caminho do outro monte, o da cruz, em Jerusalém.
E aqui surge a loucura para o homem do nosso tempo, que tem como porta-voz Pedro: fiquemos por aqui, isto é tão bom, tão distante dos problemas, traz-me uma paz tão grande, faz-me sentir tão elevado e místico. A esses Jesus lembra que a glória se conquista pela cruz, que a salvação se se contrói no mundo, que a libertação vai acontecendo hoje, no dia em que te encontras, com quem te encontras.

Nesta quaresma quero, Senhor, ter-te como centro e voz, não para me pacificar nem para me fazer fugir de mim e do mundo, mas para, com a Tua Graça, me tornares capaz de caminhar com os homens e mulheres meus irmãos e com eles fazer o caminho da Vida com todos os seus diferentes montes (o das bem-aventuranças, o da transfiguração, o da crucifixão, o da ascensão) e em todos os seus desertos.
E olhando em redor como te encontro e sinto comigo, Senhor!

1 comentário:

Salete disse...

Muitos são os que permanecem no alto do monte, agarrados à imagem que têm de um Deus muito pessoal...
A imagem que o simples olhar (não o do coração) lhes permite captar.
Uma imagem que lhes permite julgar os outros, porque acham que tiveram uma visão especial, que lhes dá tal poder...
Quero associar-me aqueles que se recusam a ficar no alto do monte e descem, seguindo o Mestre, escutando os Seus conselhos... tentando seguir o SEU exemplo...
Que descem para ficarem apenas com ELE, libertos das leis e de regras que os homens instituiram...
Ter como regra a Sua "Amai-vos uns aos outros com EU vos amei".
Sem julgamentos, sem regras que provocam dor e são causa de exclusão daqueles que o ELE nunca excluiria, porque agiria no Seu imenso amor, sem julgar, para acolher...
Que tristeza encontrar tantos homens presos à imagem da transfiguração... que não O ouviram, nem perceberam que já desceu e está tão perto de nós... em cada um, mesmo naquele que foi excluído...
E não percebem, que é a ELE que excluem...