O lema à volta do qual construí a quaresma que estamos a viver foi uma pergunta que vinha na carta de Taizé de 2010: o que fizeste da tua liberdade?
Quaresma é o tempo em que libertos pelo sangue de Cristo nos interrogamos pelo que temos feito com esse dom estrutural, basilar e indispensável da vida de um cristão. Jesus foi um homem radicalmente livre em relação a sua família, em relação às estruturas da religião em que nasceu, em relação à terra onde cresceu e alimentou expectativas, em relação ao futuro que a sociedade dele esperava, em relação a todo o tipo de poderes e constrangimentos sociais, em relação aos seus amigos, em relação àquilo que dentro de si o instigava e tentava ao sucesso, à aclamação popular ou institucional, ao poder fosse ele qual fosse. O cristão tem que ser livre, por excelência. A Igreja tem que ser a casa da liberdade. Porquê? Porque vivemos pelo Espírito e não pela lei; porque vivemos a liberdade dos filhos de Deus e não a opressão dos filhos dos deuses, sejam os deuses que forem. Porque fomos libertados, não pelo ouro ou a prata, mas pelo sangue de Cristo.
Assim, que tenho feito com a liberdade de poder ser tentado (1º domingo)? Porque é aí na situação limite que se prova o amor.
Que tenho feito com a liberdade de poder escolher uma religiosidade ociosa e alienante ou uma fé com os pés enraizados no presente e os olhos abertos ao Deus transfigurado no irmão? (2º domingo) Porque seguir a cruz implica descer o monte e não pia adoração.
Que tenho feito com a liberdade que me vem de saber que nada nesta vida é retribuição ou castigo divino, mas apenas o tempo generosamente oferecido como oportunidade para crescer e dar frutos por mais pequenos e simples que sejam? (3º domingo) Porque a cruz é o maior sinal negador de um deus tapa-buracos.
Finalmente, esta questão a deve fazer também a Igreja, nas suas estruturas, das bases até ao topo: que tenho feito com a mensagem libertadora de Jesus? Creio na liberdade dos filhos de Deus? Creio na lei do Espírito? Ou temo a imprevisibilidade do sopro do Espírito? Do rumo dos conduzidos por Ele? Da criatividade e da novidade desinstaladora do Evangelho? Porque não nos cansamos de repetir, de legislar, de não querer ver a evidência da crise e a urgência da conversão?
Amanha, regressam os comentários dominicais.
sábado, 13 de março de 2010
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2 comentários:
Já tinha saudades dos seus comentários!
Saudades da ajuda que são para mim!
Espero sinceramente no final desta caminhada quaresmal poder descobrir a resposta à pergunta que serve de base à sua reflexão...
Esta quaresma tem sido um caminho turtuoso... com uma aparente ausência de respostas... ou então que teimam em não ser claras...!
Sinto que ainda me encontro no deserto... ou então com um forte desejo de acampar no cimo da montanha, com receio de deixar a visão da transfiguração...
Cara amiga, um pobre conselho: mais que respostas, aposte nas perguntas. São elas que nos desafiam a viver o mistério da vida. Perguntar é sempre recomeçar, regressar e caminhar. Uma santa quaresma, amiga.
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