domingo, 21 de março de 2010

V Domingo da Quaresma

Não é habitual nestes comentários eu fazer referência às outras leituras dominicais, mas hoje vou começar por elas. Na primeira Isaías é porta-voz da novidade de Deus: "Não vos lembreis mais dos acontecimentos passados, não presteis atenção às coisas antigas. Olhai: vou realizar uma coisa nova, que já começa a aparecer; não a vedes?".
E Paulo, nessa ternurenta carta aos filipenses, afirma: "Por Ele renunciei a todas as coisas e considerei tudo como lixo, para ganhar a Cristo e n'Ele me encontrar, não com a minha justiça que vem da Lei, mas com a que vem de Deus e se funda na fé".
Que coisa nova é essa que já está a aparecer de que fala Isaías? Que justiça é essa que não vem nem da lei nem dos homens, mas de Deus?
A resposta está na resposta de Jesus à armadilha que os fariseus e os escribas lhe lançam diante da mulher apanhada em adultério. Eles obrigam Jesus a escolher ou a lei ou o pecador. E Jesus não hesita nem por um instante escolhendo a mulher que tem diante de si. A novidade de que fala Isaías e a justiça de Deus que entusiasma Paulo é que Deus não julga, Deus não condena, Deus é gratuidade. Como dirá Jesus mais à frente no capítulo 8 de S. João: "Vós julgais como homens, mas eu a ninguém julgo". (Jo 8, 15) Mais uma vez, eis a novidade: Deus não julga ao estilo humano - salva os bons e condena os maus - Deus é novidade amorosa e não aceita que se divinize a sua palavra e se condene e expulse os pecadores, os dissidentes, os ilegais ou os que pensam de forma diferente. Jesus não actua como um juiz: não investiga os acontecimentos, não manda chamar cúmplices, não alude a possíveis atenuantes ou agravantes, não procura descobrir a verdade. Jesus recusa-se a ser juiz porque é Deus. E Deus é amor. Sendo o único que pode julgar (não tem pecado) não o faz porque o perdão não divide (justo e injustos) mas acolhe, salva e reabilita.
Jesus diz não ao pecado que destrói, escraviza e nos desqualifica como pessoas, mas é violento com quem usa a lei e a sua palavra para condenar e não para iluminar comportamentos e melhorar a qualidade de vida, para defender os débeis diante dos privilégios dos fortes. A única lei de Deus é a que salva, eleva e retempera as forças para o caminho.
Nesta quaresma marcada pela pergunta, que fizeste da tua liberdade?, e às portas da semana maior, a Palavra deste domingo impõe duas atitudes implícitas em duas questões: quem te fez, a ti livre em Cristo, juiz do teu irmão? Que liberdade é essa(e já agora que tão pouca fé é essa no perdão absoluto do Pai) que não te deixa esquecer "o que fica para trás" e a lançares-te "para a frente a continuar a correr para a meta" que é Cristo Jesus?

2 comentários:

Salete disse...

Infelizmente para muitos persiste a imagem de um Deus Juíz e castigador... as suas vidas ainda não refletem Deus amor!
Como viver sem a felicidade de se saber amado imensamente? De conseguir sentir aquela mão que acolhe, perdoa e faz avançar?
Nesta aventura divina a maior felicidade foi a descoberta de que Ele não se deixa vencer em misericórdia e é Amor em plenitude!

Fernando Mota disse...

Cara amiga é muito mais fácil pensar Deus com os critérios que usamos uns com os outros do que com o critério que O define: o amor. Por isso, segui-lo é um apelo e uma atitude de conversão permanente até ao fim. Que fiz com a minha liberdade? É uma pergunta para sempre no final de cada dia. Abraço.