sábado, 18 de outubro de 2008

"Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus" Mt 22, 21


Esta frase tem servido para sublinhar a separação do poder político das questões de Deus como se a fé fosse simplesmente uma questão espiritual que nada tivesse a dizer sobre as relações humanas, a justiça do mundo, a vida prática das pessoas.
No entanto, não é assim. Se César tinha os seus direitos, quais os direitos de Deus, isto é, o que é que é de Deus? Melhor, se a moeda era de César porque tinha a sua imagem, quem é que tráz a imagem de Deus para poder reclamar por Ele como seu?
Cada homem e cada mulher trazem em si a imagem de Deus, por isso nenhum poder, nenhuma autoridade política pode exercer domínio sobre o Homem. Nem aqueles que se dizem voz de Deus na terra ou se sentem por Ele eleitos podem fazer do outro seu domínio, seja domínio de consciência seja domínio de acção. A dignidade de um homem ou de uma mulher não depende de nenhum senhorio humano nem de nenhuma lei por mais iluminada que ela possa parecer.
Por tudo isso, o político não pode nunca ser um domínio interdito ao crente, pelo contrário tem que ser o seu espaço de acção quando o Homem é humilhado, censurado na sua opinião, quando lhe é negada a sua subsistência, a sua liberdade de consciência, a sua autonomia, o seu direito a uma vida digna.
A crise económica que estamos a viver foi criada por aqueles que desvalorizam a força do trabalho duro como verdadeira origem da riqueza, que desvalorizam o valor da paciência para se criar um património e que preferem a riqueza rápida e não produtiva. Num tempo assim é urgente que o cristão se levante e diga que não podem ser os mais pequenos a pagar pelos pecados da ganância não produtiva, do tudo querer sem olhar a quem, do todos esmagar em vista de objectivos desumanos. Deus exige-nos que lhe demos a felicidade dos seus filhos mais predilectos: os deserdados, os pobres, os pais que temem o futuro, os trabalhadores que temem pelo seu posto de trabalho. E para esses não se falam de planos de recuperação.

1 comentário:

Grupo de Jovens disse...

Os ecos do evangelho do passado fim-de-semana. A possibilidade de perceber o que Ele nos diria hoje, face aos tempos em que vivemos, os anseios que ocupam a nossa mente. A palavra concreta, revista à luz do presente. Concordo inteiramente, o Cristão politico é aquele que sente a responsabilidade de actuar, de reagir face à injustiça, de ser coerente, a possibilidade de espalhar fragmentos de fraternidade com actos concretos, uma imagem renovada da politica. Pena que muitos esqueçam que se auto-intitulam cristãos, quando estão na politica, como se fosse incompativel. Nada mais errado. Salete