sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Reflectindo numa fila

Ontem tive que cumprir uma das muitas inutilidades burocráticas que o estado nos impõe: fui apresentar-me na junta de freguesia porque, como desempregado, o tenho que fazer de quinze em quinze dias. Quando lá cheguei estavam cinco homens, na mesma situação social, à minha frente. Mais velhos, nitidamente cansados (eram nove da manhã) e os seus gestos lentos e pesados denunciavam uma extrema desesperança. Era o último daquela fila e era o último a chegar ao convívio dos dispensáveis, dos excedentes, dos que a sociedade já não precisa.
Não pensem que estou desanimado, pelo contrário, estou muito feliz porque nunca estive tão perto dos homens e mulheres do nosso tempo. Antes tinha uma casa oferecida, agora luto por pagá-la ao banco; antes não me preocupava com a comida, agora aponto o que gasto em alimentação; antes era simples encontrar quem me resolvesse qualquer percalço, agora tenho que pagá-lo; antes era uma figura pública, agora sou mais um na massa humana. Nunca como hoje estive tão perto (mas tão longe, meu Deus) dos que têm fome e sede de justiça, dos que choram, dos que são perseguidos, dos pobres.
Nestes dias em que muitos olham os mortos, não se esqueçam dos vivos. Para ajudar, por favor, carreguem neste link: http://www.youtube.com/watch?v=D4vl33tjmLE

2 comentários:

Maria disse...

Com as capacidades que tem, jamais deixe que esse sentimento de "excedente", o desanime. Ainda tem muito para dar a toda a "massa humana", que precisa de muitas lições de vida.

Unknown disse...

Não é fácil, mas no entanto deixo-te um mensagem para que possas transmitir daqui a quinze dias a essas mesmas pessoas:

A verdadeira medida de um homem não se vê na forma como se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas em como se mantém em tempos de controvérsia e desafio.
(Martin Luther King Jr.)