domingo, 8 de agosto de 2010

XIX Domingo do Tempo Comum

Farei o comentário de hoje sobre a minha versão breve que é a seguinte: Lc 12, 32- 40.
Quando saio de casa, seja para o trabalho, seja para ir a algum lado (casa de familiares, ao cinema ou às compras) quase sempre chego a uma conclusão: como estamos cheios de coisas. Quando era criança e ia à escola ou quando andava no seminário e na faculdade, saía de casa com a pasta e nada mais. Agora, levo telemóvel, chaves do carro, comando da garagem, computador portátil mais o cabo de alimentação, carteira cheia de cartões, de descontos, de papeis e papeis, óculos de sol, enfim uma lista infindavel de coisas. E não falo de quando saio para férias ou para uma actividade diferente, seja de trabalho ou de lazer.
Andamos atulhados de coisas. Muitas eram para nos facilitar, mas acabam por nos prender e pesar...
O Evangelho de hoje é oportuno: "Não temais pequeno rebanho porque aprouve a Deus dar-vos o reino. Vendei o que possuís (...) fazei bolsas que não envelheçam (...) porque onde estiver o vosso tesouro aí estará o vosso coração". Na verdade, confiamos demasiado nas coisas e por isso andamos carregados de preocupações, de ocupações, de medos, de tesouros que se corrompem e nos corrompem e, pior, nem percebemos a salvação que vem, todos os dias, ao nosso encontro em Jesus, pelos outros.
A questão é que esperamos muito das coisas e pouco de Deus. Na verdade, esquecemos o que é a esperança. Esperamos o imediato, o já agora, o que não satisfaz. Quantos de nós chegarão ao final destas férias tão desejadas, com o amargo sabor de nada ter feito, de não ter lido o que queria, de não ter dedicado o tempo à família que desejava, de não se sentir mais realizado e completo do que esperava? Quantos de nós não anseiam que chegue o fim-de-semana e quando se levantam na segunda-feira estão ainda mais cansados? Quantos de nós esperam que seja aquele ordenado, aquela promoção, aquela experiência nova que o realize, que concretize todos os sonhos e chega ao fim e o que sente é um irritante e melancólico vazio? A questão é que nada satisfaz a nossa esperança senão o próprio Deus porque estamos feitos para o infinito, para o eterno e o mundo é pequeno para os anseios do nosso coração. Nada na vida nos satisfaz. Mesmo o amor humano traz em si sempre um limite que o faz sentir sempre aquém.
Só o Senhor que vem, sem o notarmos, e espera que nos encontremos vigilantes para o percebermos e acolhermos na nossa vida; só Ele nos realiza. Quando o fazemos a vida perde fronteiras e limites, ultrapassa os nossos sonhos e anseios (sempre demasiado pequenos), ganha eternidade. Por isso, a nossa esperança deve estar em Deus porque só ele responde ao pulsar insatisfeito do nosso coração, só dele nos vem aquilo que pode satisfazer a nossa esperança: a Vida. Por isso, relativizemos o que temos, o nosso orgulho, o momento, a zanga de ontem ou de há anos, o poder, o sucesso do outro porque nada disso realiza, tudo envelhece, tudo é corroído, tudo nos é tirado ou será tirado. Afinal, onde temos o nosso coração? Da resposta, a esta questão nasce um projecto de vida, uma forma de estar e um processo de conversão.

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