No dia 21 de Julho tivemos, no colégio, a reunião geral de professores que foi um momento paradoxal: de um lado, os resultados da inspecção feita pelo Estado que reafirmou a excelência do colégio e que disse que as propostas que fazia tinham o intuito de reforçar aquela excelência, ausente na maioria dos estabelecimentos de ensino que aquela equipa inspectora visitava (quem dera que as escolas funcionassem como o colégio, desabafavam); do outro lado, o resultado das reuniões de avaliação feita por todos os ciclos de ensino (do pré-escolar ao secundário) que propunham uma série significativa de melhorias e de novas formas de acção. O que isto mostra é o segredo do sucesso do Colégio Luso-Francês.
Esse segredo não está nas suas instalações (hoje muitas escolas secundárias, depois das obras de renovação do parque escolar têm excelentes e melhores instalações e eu ainda usufruí delas no último ano que dei aulas na Rodrigues de Freitas), não está no currículo que é igual ao do ensino público, nem está exclusivamente no estatuto económico das famílias dos seus alunos. O seu segredo está essencialmente na estabilidade, na qualidade e na heterogeneidade do seu quadro docente. Numa altura em muitos professores esperam ansiosamente que o computador do ministério lhes indique a escola onde vão dar aulas (os famosos concursos), o colégio sabe quem terá a dar aulas no próximo ano e os docentes sabem com o que vão contar.
A questão é que é o colégio que escolhe os seus professores e, na situação de concorrência em que se encontra (os nossos alunos não são garantidos, a sua inscrição depende da qualidade que os seus pais reconheçam ao ensino daquela casa), essa escolha só pode ser feita tendo em conta o mérito, a competência, o compromisso, a responsabilidade, o currículo e a qualidade dos professores. Assim, o essencial nem é uma nota de final de curso (todos sabemos como existe uma discrepância injusta e reveladora de facilitismo nas notas finais de um curso conforme a faculdade ou o instituto politécnico onde esse curso foi adquirido), nem são os anos de serviço (sem notar se esse serviço foi de qualidade e de competência). O essencial é falar com as pessoas, é recolher toda a informação necessária sobre a actividade docente dessa pessoa, é perceber os pré-requisitos de que essa pessoa é possuidora, é avaliar permanentemente a sua actividade e é ter a liberdade de a dispensar se ela se mostrar incompetente. Mais, é a própria pessoa ter consciência que o sucesso do colégio depende do seu trabalho, da melhoria das performances dos alunos, que o seu salário e o seu posto de trabalho dependem da exigência, do rigor e da qualidade que coloca nas suas aulas e na sua restante actividade docente. Por isso, no final do ano foram tantas as propostas de melhorias apresentadas pelos docentes porque estão empenhados e comprometidos em fazer do colégio um espaço de saber e de preparação para a vida com mais e melhor sucesso.
Não é possível uma educação com qualidade sem professores, mas também não é possível sem os melhores professores. E esses não se descobrem por concurso centralizado e computorizado, mas por contacto directo e pedindo contas da sua actividade como qualquer empresa de sucesso faz. Mas eu sei que ninguém quer isso com medo das chamadas cunhas. Preferem o "maravilhoso" estado actual. Boa sorte...
Há muito que gostaria de vos mostrar aqui um estudo americano, que descobri a partir de um artigo de Nuno Crato, (eu sei que há estudos para todos os gostos, mas este tem as melhores referências) sobre a utilidade dos computadores (esse mito tão socrático) na aprendizagem. A amostra é gigantesca: 150 mil jovens, seguidos ao longo de cinco (5) anos. Os dados permitiram observar os resultados dos alunos em matemática e na leitura em dois momentos: antes e depois da introdução do computador pessoal para estudo, em casa. Assim, estudou-se o impacto do computador no progresso dos estudos em cada estudante, independentemente do seu meio social.
Surpresa: após a introdução do computador no quarto de estudo, os jovens não melhoraram os seus conhecimentos. Os rapazes têm mesmo algum retrocesso escolar. Enfim, os investigadores notaram (há tanto que eu digo isto) que a tendência é usar o computador não como meio de estudo, mas como meio de comunicação e diversão que ajudam à constante dispersão.
Pior, o retrocesso é maior nos jovens de meios mais desfavorecidos porque o apoio familiar na orientação do uso da informática é menor e esses jovens ainda se dispersam mais. Enfim, o computador oferecido não é um meio de igualização social.
O que isto quer dizer é somente que o uso das novas tecnologias, por si só, não é solução de nada porque nada substitui o bom professor e o estudo organizado. Sim, o estudo. Sim, eu sei que estudar é duro e difícil, não é um divertimento, mas é a vida...
www.nber.org/papers/w16078.pdf
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
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1 comentário:
A questão é precisamente é essa: panaceias e demissão do estado e das famílias pensando que o computador tudo resolve. Aliás, como tudo na vida tem convenientes e inconvenientes. Nada é totalmente inócuo, mesmo um computador. Abraço
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